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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Laços de família

Laços de família


Tiago Zanoli Gazeta Vitoria


Século XVIII. Recém-chegado de Portugal, o padre Antonio Buarque de Lisboa apaixona-se pela bela sinhazinha Ana Tereza Lins. O desejo dele é correspondido pela jovem. Dessa relação, nasce Manuel Buarque de Jesus, dando início à linhagem dos Buarques. Entre os herdeiros, vieram ao mundo personagens célebres, que viraram verbete de enciclopédias, como o filólogo Aurélio Buarque de Hollanda, o historiador Sérgio Buarque e o filho deste, o cantor, compositor, escritor e dramaturgo Chico Buarque.

A história de uma das mais tradicionais famílias brasileiras, cuja origem é marcada por amores clandestinos e paixões proibidas, é narrada no romance "Buarque – Uma Família Brasileira", escrito pelo economista pernambucano Bartolomeu Buarque de Holanda. Esse livro complementa outra obra produzida pelo autor, que envolveu cerca de 30 anos de pesquisa: "Buarque – Uma Família Brasileira (ensaio histórico-genealógico)".

Publicados em 2007 pela editora Casa da Palavra, os dois livros têm lançamento em Vitória previsto para o dia 3 de fevereiro, em local a ser confirmado.

Em entrevista por telefone ao Caderno 2, Bartolomeu contou que seu interesse por investigar as raízes de sua família surgiu a partir de uma história contada por seus avós, a de que seu tetravô paterno, José Ignácio Buarque de Macedo, quase morreu afogado em 1797. "Se ele tivesse morrido, não existiria nenhum desses personagens que conhecemos hoje, como o Chico Buarque. Esse foi o pontapé inicial da minha pesquisa", afirma o autor.

Ousadia
Neto do padre Antonio Buarque, José Ignácio foi um dos mais poderosos senhores de engenho em Alagoas. Na contramão dos costumes vigentes, ele se casou com Maria José, uma escrava que, embora analfabeta, foi a primeira mulher em toda aquela região a colocar a educação como prioridade para a família.

Após conversas com o atual senador Cristovam Buarque, Bartolomeu começou a pesquisar a vida de José Ignácio. "A partir do inventário dele, descobrimos que foi pai de dois ministros. Fizemos, então, o levantamento de todos os outros irmãos e descobrimos um fato curioso: que José Ignácio era neto de um padre", conta.

Foi essa descoberta que motivou ainda mais o trabalho, que deu origem ao ensaio histórico-genealógico, com quase 1,2 mil páginas e encarte com fotografias e documentos dos séculos XVII, XVIII e XIX. A ideiann de romancear a história da família, por sua vez, partiu de uma sugestão de Cristovam. Segundo Bartolomeu, a narrativa complementaria o estudo e ajudaria o leitor a compreender melhor o primeiro livro.

Para produzir as duas obras, o autor pesquisou cerca de 17 mil documentos (processos, inventários e testamentos) pertencentes aos arquivos de cartórios de Pernambuco e de Alagoas. "Além disso, viajei para Lisboa, em Portugal, pelo menos 12 vezes para levantar dados biográficos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo", diz Bartolomeu.

Entrevistas
O autor acrescenta que chegou a entrevistar cerca de mil pessoas, ao longo do tempo. Uma das primeiras declarações que ele conseguiu data de 1978, quando visitou o historiador Sérgio Buarque de Hollanda. "Nas cidades onde estive, entrevistei muitos padres e pessoas mais velhas e mapeei toda aquela região, que abrange 15 municípios, do norte de Alagoas ao sul de Pernambuco."

O ensaio histórico-genealógico reúne 23.717 verbetes de familiares e de famílias entrelaçadas, incluindo minibiografias dos membros mais destacados, além de documentos cartoriais, certidões, depoimentos e diários familiares que ultrapassam os séculos.

Já o romance, que apresenta cenas e diálogos com riqueza de detalhes, baseou-se sobretudo em um diário de uma tia-bisavó do autor, que reunia algumas histórias do padre Antonio Buarque de Lisboa e entrevistas feitas com outros familiares, entre 1850 e 1882.

"Se José Ignácio Buarque de Macedo tivesse morrido, não existiria nenhum desses personagens que conhecemos hoje, como o Chico Buarque."
Bartolomeu Buarque de Holanda
economista e escritor

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