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domingo, 21 de junho de 2009

Ranulfo Paranhos

A discussão acerca de um modelo de desenvolvimento regional no que toque à questão política e econômica proposto pela elite do Nordeste brasileiro passa pelo momento histórico da criação do Banco do Nordeste do Brasil e pela criação de SUDENE e, ainda, pelo modelo característico da condução política sui generis nessa região do país, a saber, os fenômenos de controle e mando como o coronelismo, clientelismo, patrimonialismo e a conseqüente degradação política representada pela corrupção.

A tentativa institucional do Governo Federal, ao criar o Banco do Nordeste como alternativa à saída econômica do Nordeste, sendo este um instrumento de financiamento de iniciativas privadas voltadas à geração de empregos, receita e ao conseqüente desenvolvimento, há muito foi desacreditado, falhou. Um dos principais motivos pode ser creditado ao seu modelo, que em nada difere dos demais ao financiar empreendimentos, buscando segurança no retorno ao que foi emprestado a ponto de reproduzir uma burocracia que torna inviável às iniciativas do pequeno investidor, só atendendo a clientes efetivamente em condições econômicas consolidadas. Por sua vez, a SUDENE, criada na década de 60, responsável pela introdução da economia do Nordeste no resto do país não conseguiu cumprir seu papel e foi considerada carta fora do baralho, seus projetos de desenvolvimento econômico não resultaram significativos o suficiente para justificar sua responsabilidade como tal.

Paralelo às iniciativas frustradas do Governo Federal em tentar desenvolver a economia do Nordeste a ponto de equipará-lo ao resto do país, temos a cultura política praticada nessa região, moldada desde o início da colonização do Brasil pelos senhores de engenhos, como nos aponta com bastante particularidade Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala (1933), Raymundo Faoro com seu Os Donos do Poder (1958), Victor Nunes Leal com Coronelismo, Enxada e Voto (1948) entres outros autores. Nesse sentido, o que a História nos apresenta é um modelo econômico que se confunde com a prática política, onde os representantes do povo são os mesmos que detém o poder político, onde os interesses particulares invadem a estrutura de representação pública, ou seja, no Nordeste o que existe é o mais elevado grau de crimes de lesa pátria que possa ser registrado. A prova de tamanha ação pode ser vista não apenas pelas clássicas obras citadas e lidas por uma meia dúzia de intelectuais dentro das universidades, mas é estampada diariamente em capas de jornais e revistas, com percentuais e índices de corrupção que chegam e atingir desvio de verbas públicas da ordem de 40%. Aqui e ali são desvendados esquemas políticos diretamente ligados ao sistema econômico, ambos liderados pela elite econômica, senhores donos das indústrias e na sua maioria donos das usinas de cana-de-açúcar, financiadores de campanhas políticas que possam sair vitoriosas e representar seus interesses tanto na esfera municipal, estadual e nacional.

Poderíamos dizer que o modelo econômico e político presente no Nordeste, pode servir de modelo à uma identidade nacional? Eu diria que não, que as condições aqui presentes, são condições unicamente daqui, construídas ao longo da História, cuja antropologia social resguarda elementos únicos, capazes de tentar frear a qualquer custo as tentativas de alteração desse modelo, as possibilidades de mudança ou o monstro que assombra os políticos diuturnamente: a educação e consciência política desse povo do Nordeste.

Ranulfo Paranhos

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