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domingo, 9 de janeiro de 2011

Mas casou mesmo?

Estamos vivendo uma década marcada pela independência feminina, momento em que a mulher assume papel fundamental nas relações de trabalho, provedora de renda familiar, uma alteração no paradigma da antiga grande mãe, da “Super-Mãe” do Ziraldo que, além de trabalhar, dá conta do lar e hoje clama por igualdade inclusive na hora de relaxar.
Os homens, por outro lado, também assumiram mais suas emoções, os cafajestes de recalque faleceram ou se extinguiram, e eles passaram a assumir as suas inseguranças e fragilidade, a falar de relacionamento, compromisso e a buscar na mulher uma cúmplice, inclusive alternando papéis entre prover e cuidar, masculino e feminino.
Um momento social em que as relações podem terminar a qualquer momento, sem cobranças de fracasso. Separar ficou normal e até mesmo as relações que permanecem alteraram suas características para a continuidade, permitindo maior individualidade, solidão, independência e autonomia para o marido e para a esposa.
Agora, venhamos e convenhamos, relacionamento marital ainda deve ser relacionado a cumplicidade, monogamia, lealdade, fidelidade, cuidado, proteção, família, filhos, sonhos, uma verdadeira instituição social, uma empresa em busca de estabilidade e realização. Ou estou errado? Mesmo com toda a modernidade, a liberação oriunda da revolução tecnológica, a quebra de tabus e dogmas religiosos, casamento ainda se trata de duas pessoas comprometidas num laço social de cumplicidade e respeito.
Eu posso vestir a calça pela cabeça, nos braços e vestir o pulôver pelos pés nas coxas, mas não é o correto, ou seja, nos casos de matrimônio, onde a relação marital visa continuar num laço familiar, com tesão e sacanagem sexual também, mas com todas as responsabilidades de uma família, o homem e a mulher devem ser cúmplices, parceiros, mesmo na época da individualidade, do “tudo pode”, sem culpa, onde o “santo graal” do relacionamento a dois trata de saber ser sozinhos. Ainda devemos considerar o correto e o incorreto para não trocarmos os pés pelas mãos.
Viver um relacionamento marital é diferente de namorar, ficar ou se apaixonar. É impossível viver um relacionamento duradouro para quem não aprende a viver com as diferenças, a se frustrar, a escolher o laço familiar por opção de vida. Geralmente esperamos nos complementar como se fosse um investimento, dar um carinho e esperar em troca, abrir mão de uma vida de solteiro desde que o parceiro faça isto ou aquilo.
O que me faz lembrar de uma cliente que buscou a psicoterapia sob influência do marido, pois vivia brigando, frustrada, ranzinza, e que durante o processo psicoterapêutico reavaliou o quanto e como se entregar para não esperar do outro aquilo que ele não pode oferecer e, com isso, se frustrar. Aos poucos, ela aprendeu a viver o amor de maneira mais espontânea; ainda continua com seus próprios interesses, mas sabe reconhecer melhor seu afeto, aceitar o outro do jeito que ele é. Ela passou a resmugar menos, pois agora cobra menos, tanto é que adquiriu um gatinho que faz xixi nos tapetes, arranha os móveis e mia acordando minha cliente às seis horas da manha, mas o bichinho é lindo e ela o ama.
Nada de amor incondicional, nem de se anular: a entrega num relacionamento não é de graça e deve ter interesses sim, justamente por isso aceitação é fundamental, desde que esteja preservando o matrimônio com cumplicidade, respeito, cuidado, carinho, tesão. Afinal, caso você pegue um barco e vá para o mar com uma vara de bambu, linha e anzol, ao jogar a isca e alguma coisa morder é peixe, viu, pois de debaixo da água não vai sair girafa, orangotango ou outro bicho estranho. Quem casa é pra viver um matrimônio, certas coisas não se discutem. Quem tenta fazer diferente quer reinventar a roda.

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