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quarta-feira, 27 de maio de 2009

‘O governo antecipou 2010 na CPI’

... afirma Agripino





Líder do DEM, o oposcionista José Agripino Maia recebeu nesta terça (26) a visita de outros dois líderes: os governistas Renan Calheiros (PMDB) e Gim Argello (PTB).



Negociara com ambos, na semana passada, um entendimento que acomodaria o ‘demo’ ACM Jr. na presidência da CPI da Petrobras.



O acerto desandou depois que Lula interveio. “Vieram me comunicar”, contou Agripino ao blog. “Foi uma conversa marcada pelo constrangimento de meus interlocutores”.



Acha que Lula agiu porque tem “temor” da investigação e vê na CPI “um elemento perturbador para 2010”. Em resposta, a oposição acena com o bloqueio do plenário. Vai abaixo a entrevista:







- Como se deu o pré-acordo que acomodaria ACM Jr. na presidência da CPI?

O PMDB, o PTB e o PR haviam manifestado a intenção de estabelecer um diálogo com a oposição.

- Levou a sério?

Sim. Até porque esse diálogo vinha sendo retomado no Senado. As votações tinham ganhado velocidade.

- Sua interlocução no caso da CPI se dava com Renan Calheiros?

Sobretudo com Renan [líder do PMDB], com Gim Argello [líder do PTB] e com Romero Jucá [líder de Lula].

- Renan deu alguma explicação plausível para o recuo?

O que houve é que, entre a intenção declarada na semana passada e o fato consumado nesta semana houve uma conversa entre ele e o presidente. Ficou claro que o governo, com o temor que tem das investigações, convenceu sua base de que não convinha dividir conosco as posições de comando na investigação.

- Não acha que pode ser sido usado por pessoas que queriam se valorizar perante o governo?

Não.

- De onde vem sua convicção?

Estiveram comigo o Renan e o Gim Argello. Vieram me comunicar os desdobramentos dos fatos. Foi uma conversa marcada pelo constrangimento de meus interlocutores. Esse constrangimento denota que não houve farsa.

- A que atribui o interesse do PMDB de manter pontes com a oposição?

Há um claro incômodo do PMDB com o PT no Legislativo.

- De onde vem esse incômodo?

Desde o início do governo Lula, o PT resiste em ceder espaço ao PMDB. Mas o PMDB tem a força. Estabelece-se um clima de confronto entre o detentor do poder e o dono dos votos. Esse ambiente se agrava ano a ano. Há clara deterioração nas relações entre os dois principais parceiros do governo. Vai chegando perto da eleição e as diferenças se exacerbam.

- Renan e Argello disseram que Lula vetou ACM Jr. na presidência da CPI?

Não chegam a verbalizar. Mas isso ficou no ar. Como é que até a tarde de quinta-feira da semana passada a disposição era uma e na segunda-feira, depois da conversa com Lula, a disposição era outra completamente diferente? Como é que, depois dessa conversa, o fato me é comunicado em clima de constrangimento?

- Em que se baseia para dizer que houve constangimento?

Ficou claro nas palavras e nos semblantes.

- Como respondeu ao recuo?

Fui absolutamente claro no que diz respeito às consequências. Disse a eles: se o governo quer fazer valer na CPI a sua supremacia numérica, nós, da oposição, faremos valer no plenário do Senado os números de que dispomos.

- Como se dará a reação em plenário?

Na CPI, o governo usa suas armas para garantir truculentamente os postos de comando. Passar para a sociedade a idéia de uma investigação farsesca. Nós também vamos usar as nossas armas para defender os nossos pontos de vista e o que julgamos ser o interesse da sociedade no plenário. Usaremos os procedimentos que estão ao nosso alcance. Leia-se obstrução.

- Juntos, DEM e PSDB tem 27 votos. Dá para sustentar a obstrução?

É preciso contar os dissidentes, inclusive os do PMDB. Temos mais de 30 votos.

- É o bastante para obstruir num plenário de 81 senadores?

Com o quorum médio do Senado, é mais do que suficiente. O quorum nunca está completo, com os 81 senadores.

- O DEM está afinado com o PSDB em relação à obstrução?

Ao meio-dia desta terça-feira, quando percebi que as coisas tinham mudado, toquei o telefone para o Arthur Virgílio [líder tucano]. Ele concordou imediatamente que a nossa estratégia deveria ser essa. Se a arma do governo é a truculência, se o entendimento foi quebraedo, só nos resta essa alternativa da obstrução.

- Não receia que, em dado momento, surja uma matéria cujo relevo desrecomende a obstrução?

Não estamos falando de obstrução sistemática, mas seletiva. Estamos falando de matérias que são caras ao governo, mas que nós entendemos que são danosas à sociedade.

- Pode mencionar exemplos?

A obstrução já começou com a medida provisória do Fundo Soberano. Na hora em que entrar na pauta a taxação da poupança, o governo vai nos encontrar pela frente. É a forma que temos de proteger a sociedade.

- Acha que há risco de a CPI produzir uma investigação chapa branca?

Temo por isso. Mas note que, no último final de semana, a primeira avaliação feita pela imprensa livre nos patrocínios bancados pela Petrobras produziu duas notícias de capa, uma no Globo e outra no Estadão. Estamos falando da aplicação de R$ 600 milhões. A destinação de parte desse dinheiro foi para objetivos que não se cumpriram. Outra parte foi para ONGs e entidades que tem um claro viés político-partidário. Uma burla praticada com a intenção de dar dinheiro a entidades como o MST e a CUT. Se nessa primeira análise já se produziu esse volume de evidências, imagine o que vai acontecer na hora em que a investigação começar na CPI.

- Imagina que governistas podem se render aos fatos?

Os fatos vão ganhar dinâmica própria. Temos um placar de oito a três na CPI a favor do governo. Com o aprofundamento das investigações, com a tomada de depoimentos, esse placar pode virar para onze a zero.

- Não está sendo demasiado otimista?

Os fatos falarão por si. Ou os senadores que integram a CPI valorizam os fatos ou essa investigação vai desmoralizar partidos e pessoas.

- Acha que o movimento de Lula tem vínculos com 2010?

O governo vê nesta CPI um elemento perturbador para 2010. Algo de grandes proporções. Estão cuidando de politizar a CPI. Na hora em que usam a maioria para fazer o presidente e o relator, o governo antecipa a sucessão presidencial na CPI.

- Ao organizar a CPI, a oposição também mirava 2010, não?

Nenhum de nós buscou essa investigação. Mas não podemos ignorar os fatos. Denúncia da revista Época, da Folha, do Globo... Vamos ficar parados? Não dá. Ninguém faz CPI por prazer. O grande temor deles é que eles imaginam que nós sabemos o que eles sabem. Apenas intuímos. E vamos investigar.

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