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sábado, 28 de março de 2009

O que leva alguém a se matar?

Poucas atitudes humanas são tão enigmáticas quanto o suicídio. O inexplicável ganha contornos ainda mais trágicos quando o comportamento suicida multiplica-se entre os integrantes de uma família. Supõe-se que a combinação de fatores genéticos, herdados dos pais, com sociais, incluído aí tudo o que diz respeito à estrutura familiar, esteja na base do ato extremo de pular de um prédio, enforcar-se, estourar os miolos com um revólver, tomar uma caixa inteira de barbitúricos ou inalar gás - os métodos mais comuns de suicídio.

Na semana passada, Frieda Hughes anunciou que o seu irmão, Nicholas, enforcou-se em sua casa no Alasca. Os dois são filhos de Sylvia Plath, uma das mais brilhantes escritoras americanas do século XX, com o poeta inglês Ted Hughes, outro peso pesado das letras. Quando Nicholas tinha apenas nove meses de vida, Sylvia, no auge de seus 30 anos, trancou-se na cozinha, colocou a cabeça no forno e ligou o gás.

Durante décadas, feministas acusaram Ted de ser o culpado do suicídio de Sylvia, pelo fato de ele a ter deixado por outra mulher, Assia Wevill, pouco tempo antes. Seis anos depois, Assia se matou da mesma forma que Sylvia, levando consigo a filha pequena que tivera com Ted. É impossível saber se a perda da mãe, da madrasta e da meia-irmã por suicídio influenciou de alguma forma o gesto final de Nicholas, um respeitado biólogo marinho de 47 anos que, segundo Frieda, lutava contra a depressão.

Trauma - Uma experiência traumática na infância, como a perda de alguém muito próximo, pode ser considerada um detonador. Sylvia Plath, por exemplo, considerava que seu pai, morto quando ela era criança, teve um comportamento suicida ao negar-se a se tratar do diabetes. Entre os fatores de origem genética, estão distúrbios mentais como a bipolaridade e a esquizofrenia. Nove em cada dez suicidas têm algum tipo de transtorno psíquico diagnosticado.

Nem mesmo essa estatística, porém, é suficiente para esclarecer totalmente o que leva uma pessoa a cancelar sua existência. "Afinal de contas, 90% dos pacientes com depressão ou outros distúrbios não se matam", diz Marcelo Tavares, coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio da Universidade de Brasília.

Terapia - Quase todo mundo já flertou, ainda que de modo efêmero, com a idéia de tirar a própria vida. Que o digam adolescentes às voltas com uma grande desilusão amorosa. Ligeiros pensamentos suicidas, no entanto, não são preocupantes. Eles requerem atenção quando passam a habitar constantemente o nosso universo mental e, assim, podem transformar-se num impulso incontrolável. Terapia e, talvez, o uso de remédios são a saída mais concreta e menos filosófica. Sylvia Plath costumava insinuar que a escrita, para ela, funcionava como terapia.

Como ocorre com artistas que se matam, é tentador interpretar a obra da americana como se fosse um bilhete de despedida a conter os sinais, mesmo que tênues, do fim voluntário. Sinais quase sempre indecifráveis em outros suicidas, cujas razões ficarão para sempre obscuras. Entre eles, Nicholas Hughes, que repetiu o caminho trágico da mãe.

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