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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bernard L. Madoff Investment Securities.

ATÉ A SEGUNDA-FEIRA 15, O SITE www.madoff.com trazia um pouco modesto texto de apresentação da empresa de ATÉ A SEGUNDA-FEIRA 15, O SITE www.madoff.com trazia um pouco modesto texto de apresentação da empresa de investimentos Bernard L. Madoff Investment Securities. Recheada de auto-referências despudoradas ("companhia de qualidade inigualável", "experiência global", "tecnologia avançada"), a página da internet também exibia uma espécie de slogan que, por uma dessas ironias do destino, revelaria-se próxima do ridículo: "O nome do proprietário está na porta." A mensagem era clara. Quem não confiaria em alguém que empresta o próprio nome a uma companhia de investimentos? Bilionários e gigantescas corporações do mundo inteiro confiaram. Nos dias que se seguiram, porém, Madoff deixaria a empresa - pela porta dos fundos, a propósito - para aparecer com destaque em jornais e tevês do mundo inteiro. Ele foi preso pela polícia americana e depois libertado sob fiança de US$ 10 milhões. Ao sair, tinha preso em seu tornozelo um equipamento de monitoração eletrônica. A acusação? Madoff comandou um esquema fraudulento que provocou perdas estimadas em US$ 50 bilhões ao redor do planeta, inclusive no Brasil. É tanto dinheiro que ele praticamente equivale a toda a fortuna de Warren Buffett, o homem mais rico do mundo. Se o valor for confirmado, será superado apenas pela quebra da Enron, em 2001, que gerou prejuízos de US$ 64 bilhões. Na terça-feira 16, o site saiu do ar, trocado por um comunicado da Justiça dos Estados Unidos.
Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, Bernard Madoff ressuscitou um velho esquema de investimentos conhecido como "pirâmide de Ponzi", numa referência ao estelionatário Charles Ponzi, famoso na década de 20 do século passado por lesar 30 mil pequenos investidores americanos (leia quadro à pág. 86). A diferença é que Madoff enganou gente graúda e movimentou muito mais dinheiro. O esquema de Madoff era executado por meio de sua assessoria a fundos de hedge (equivalentes no Brasil aos fundos multimercados), instituições financeiras e investidores individuais. Ele oferecia retornos constantes, mesmo em épocas de queda nas ações. Para isso, usava o dinheiro de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações dos recursos. O modelo depende essencialmente do fluxo constante de novos investimentos. Se alguém interrompe a corrente, o que pode acontecer com a retirada em peso de grande volume de dinheiro, o esquema desmorona sobre seu próprio peso. Com a crise bancária a partir de outubro, Madoff teve pedidos de resgates de US$ 7 bilhões e a pirâmide desmoronou. É como disse Brad Alford, que comanda a consultoria de investimentos Alpha Capital, de Atlanta (EUA): "Não havia lucros, apenas o dinheiro de outras pessoas."

Entre os clientes de Madoff, estão algumas das principais instituições financeiras do mundo, como o britânico HSBC, o espanhol Santander e o francês BNP Paribas, além de outros pesos pesados. Na Espanha, os prejuízos da fraude chegariam a € 3 bilhões. Na Inglaterra, passariam dos US$ 5 bilhões. Maior financeira do Japão, a Nomura Holding poderá acumular danos de US$ 300 milhões. Celebridades como a atriz Uma Thurman e o jogador de basquete Kobe Bryant também torraram milhões de dólares no esquema. Madoff provocou uma epidemia global. Bancos de mais de 40 países usavam seus serviços. Por isso mesmo, a contaminação alastrou-se numa velocidade espantosa e num momento em que as grandes instituições financeiras globais vivem sob desconfiança. Só faltava um Madoff para aumentar o pânico.
Investidores brasileiros com recursos no Exterior também perderam dinheiro. Não se sabe exatamente quanto, mas eles eram grandes clientes do Fairfield Greenwich Group, empresa de Connecticut (EUA) que distribuía os malfadados investimentos entre os milionários de vários países. Com ativos de US$ 14,1 bilhões sob gestão, o grupo afirmou ter direcionado US$ 7,5 bilhões para veículos financeiros ligados a Madoff. Esse dinheiro virou pó. Gestor do Fairfield, o financista Walter Noel é casado com uma brasileira, Mônica Haegler. O casal tem cinco filhas e usava o bom trânsito da família na alta sociedade de Milão, Londres, Madri e Genebra, além do Rio de Janeiro, para oferecer acesso aos fundos. Uma mansão de Noel na paradisíaca ilha Mustique, no Caribe, chamada de Iemanjá, era o mais luxuoso ponto de encontro com amigos e clientes. Madoff foi muito bem representado pela família Noel durante quase 20 anos. Quatro dos cinco genros de Walter Noel trabalham para ele. Seu cunhado, o empresário Alex Haegler, é pai de Bianca, que atuava como gerente de marketing do Fairfield no Brasil. O clã tem ligações familiares e de amizade com Jorge Paulo Lemann, dono da Inbev.



LA GARANTIA SOY JO
Site da empresa de Madoff na internet usava o nome do dono para atrair clientes, como se o fato de tê-lo gravado na porta fosse garantia de alguma coisa. Não era. Investidores de 40 países foram lesados pela maior fraude financeira da história depois da Enron, de 2001




No mundo das altas finanças, relacionamento e confiança são fundamentais. Como os fundos de Madoff ofereciam retornos constantes, com baixa volatilidade, brasileiros avessos ao risco foram seduzidos.
A fama do ex-presidente da Nasdaq entre os milionários era tamanha que muitos deles solicitavam suas aplicações aos serviços locais de private banking (gestão de fortunas). Clientes do Safra na Europa e nos Estados Unidos pediram para aplicar nos fundos de Madoff. Segundo um porta-voz do Safra em Nova York, o banco no Brasil não tem investimentos nem exposição de crédito junto a Madoff. Clientes do HSBC e do Santander também foram lesados. Ninguém suspeitava de que se tratava de uma fraude gigantesca, tampouco exigia muitos detalhes das aplicações. "Todo mundo que trabalhava com milionários oferecia os fundos do Madoff, que era visto como uma espécie de Warren Buffett", afirma um ex-banqueiro de investimentos. Para investir com o "guru" de Greenwich, não bastava ter dinheiro, era preciso ser indicado, diziam os Haegler no Country Club carioca, segundo relatos de investidores lesados. Agora, essa aura de mistério se dissipou. Alex e Bianca Haegler não retornaram os pedidos de entrevista da DINHEIRO. No site do Fairfield, os gestores se dizem chocados com a fraude e pedem paciência aos clientes neste momento difícil. Tarde demais.
O episódio clama por uma pergunta inevitável: como um investidor consegue enganar tanta gente por tanto tempo? A resposta está numa única palavra: confiança. Madoff ganhou o respeito de bilionários e grandes corporações ao assegurar rendimentos entre 10% e 12%, independentemente das condições de mercado. As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment registraram ganhos de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio. Por mais surpreendente que possa parecer, esse retorno absurdamente estável não despertou desconfiança. É mais ou menos assim. Um bilionário ganha dinheiro com Madoff e, feliz da vida, avisa seu colega do country club. Este, por sua vez, experimenta os serviços do gestor e, também satisfeito, atrai novos investidores. Nos últimos tempos, Madoff ia pessoalmente à Flórida buscar clientes - a maioria aposentados. "Muitas pessoas em Palm Beach foram roubadas por esse podre", afirmou o bilionário Donald Trump. "Eu o via em Mar-a-Lago, em Palm Beach. Ele é uma desgraça."


US$ 10 MILHÕES
foi quanto Madoff pagou de fiança para voltar ao luxuoso apartamento de Manhattan, em Nova York, avaliado em US$ 9 milhões. Além disso, não pode sair de casa à noite


A operação era essencialmente familiar. O irmão Peter Madoff chefiava o escritório de compliance (obediência às leis e regras dos reguladores). Seus dois filhos, Andy e Mark, estavam no negócio, na área de negociação de ativos. A sobrinha Shana Madoff cuidava do departamento jurídico. Na semana passada, começaram a vir à tona outros fatos estranhos. Segundo Madoff, a empresa responsável pela auditoria de suas contas é uma certa Friehling & Horowitz. Parece que se trata de uma mentira deslavada. A tal companhia declarou à Justiça americana que não faz uma auditoria há, acredite, 15 anos! Outro fato inacreditável: enquanto tinha entre seus clientes muitos fundos de pensão e mesmo fundações beneficentes, o instituto Lymphoma Research Foundation - dedicado à pesquisa de tratamento de câncer e que é mantido por Bernard Madoff - não aplicava seus recursos nos fundos administrados por ele.
Aos 70 anos, Madoff era um sujeito relativamente desconhecido, embora tenha sido nos anos 90 presidente da bolsa eletrônica Nasdaq. Antes do escândalo, seu nome raramente aparecia na imprensa especializada. Só quem tinha muito dinheiro o conhecia. Ele é um apaixonado por barcos. Tem três lanchas e dois veleiros. A cada seis meses, largava tudo para navegar nas águas mansas e cristalinas do Caribe. É tão obcecado por dinheiro e navegação que suas leituras restringem-se aos dois assuntos. Ao que consta, é um precavido. Na quarta-feira 17, a polícia inglesa descobriu, num cofre de seu escritório em Londres, € 8 milhões em dinheiro vivo. Ao ser preso, pediu aos quatro policiais que o abordaram alguns minutos a sós com os filhos. Disse aos dois que a Bernard L. Madoff Investment Securities não passava de "uma grande mentira".

CONEXÃO NO BRASIL
Bianca Haegler, filha do empresário Alex Haegler (na foto com a esposa, Sandra), representava a firma que revendia o fundo de Madoff no País



Será que nem eles nem os funcionários da empresa sabiam do golpe? Como alguém poderia fazer uma fraude de US$ 50 bilhões sozinho? "Falando como judeu no Natal, eu ficaria menos chocado se o Papai Noel aparecesse em minha casa do que se Bernie Madoff tiver armado essa fraude sozinho", disse Ron Geffner, sócio da firma de advocacia Sadis & Goldberg, especializada em serviços para fundos de hedge. Para manter a fraude de pé por tanto tempo, Madoff teve de forjar relatórios financeiros e falsificar registros de títulos e de lucros, numa operação complexa diante de tamanho volume de recursos. Em 2001, ele chegou a ser investigado pela SEC, a agência reguladora do mercado americano, mas escapou. Agora, grandes firmas de auditoria, como PriceWaterhouseCoopers, KPMG e Ernst & Young, que auditavam fundos investidores em aplicações de Madoff, começam a ser cobradas pelos clientes dos bancos. Será que ninguém percebeu nada durante 19 anos?



A pirâmide de Ponzi
O homem que virou sinônimo de golpe financeiro nos anos 20 morreu no Brasil



PONZI, O VIGARISTA: fraude durou apenas 7 meses

Bem antes de Bernard Madoff fazer história, outro estelionatário utilizou o esquema da pirâmide para aplicar seus golpes. Na década de 1920, o ítalo-americano Carlo Ponzi enganou mais de 30 mil norte-americanos ao prometer um retorno de 100% em apenas 90 dias. Ele chegou a ganhar diariamente US$ 250 mil. Os primeiros clientes receberam sua parte da bolada, mas os últimos perderam tudo. Preso depois de sete meses, Ponzi cumpriu pena de 11 anos. Aos 49 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a viver de pequenos negócios e aulas de inglês. Morreu no hospital da Santa Casa, pobre, paralítico e cego. Tinha 67 anos.
O golpe da pirâmide é simples. A base é composta pelos últimos investidores captados. O montante vai diretamente para o topo e todos os outros intermediadores envolvidos, da primeira escala à última, são remunerados com uma comissão. No caso de Madoff, os integrantes da pirâmide desconheciam fazer parte de um esquema fraudulento. Captavam clientes, ganhavam a comissão, mas achavam realmente que se tratava de um fundo de investimento. O esquema não poderia dar certo para sempre. Por mais que o número de investidores crescesse, haveria um momento em que a entrada de recursos diminuiria ou se esgotaria. Foi o que aconteceu.




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inigualável", "experiência global", "tecnologia avançada"), a página da internet também exibia uma espécie de slogan que, por uma dessas ironias do destino, revelaria-se próxima do ridículo: "O nome do proprietário está na porta." A mensagem era clara. Quem não confiaria em alguém que empresta o próprio nome a uma companhia de investimentos? Bilionários e gigantescas corporações do mundo inteiro confiaram. Nos dias que se seguiram, porém, Madoff deixaria a empresa - pela porta dos fundos, a propósito - para aparecer com destaque em jornais e tevês do mundo inteiro. Ele foi preso pela polícia americana e depois libertado sob fiança de US$ 10 milhões. Ao sair, tinha preso em seu tornozelo um equipamento de monitoração eletrônica. A acusação? Madoff comandou um esquema fraudulento que provocou perdas estimadas em US$ 50 bilhões ao redor do planeta, inclusive no Brasil. É tanto dinheiro que ele praticamente equivale a toda a fortuna de Warren Buffett, o homem mais rico do mundo. Se o valor for confirmado, será superado apenas pela quebra da Enron, em 2001, que gerou prejuízos de US$ 64 bilhões. Na terça-feira 16, o site saiu do ar, trocado por um comunicado da Justiça dos Estados Unidos.
Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, Bernard Madoff ressuscitou um velho esquema de investimentos conhecido como "pirâmide de Ponzi", numa referência ao estelionatário Charles Ponzi, famoso na década de 20 do século passado por lesar 30 mil pequenos investidores americanos (leia quadro à pág. 86). A diferença é que Madoff enganou gente graúda e movimentou muito mais dinheiro. O esquema de Madoff era executado por meio de sua assessoria a fundos de hedge (equivalentes no Brasil aos fundos multimercados), instituições financeiras e investidores individuais. Ele oferecia retornos constantes, mesmo em épocas de queda nas ações. Para isso, usava o dinheiro de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações dos recursos. O modelo depende essencialmente do fluxo constante de novos investimentos. Se alguém interrompe a corrente, o que pode acontecer com a retirada em peso de grande volume de dinheiro, o esquema desmorona sobre seu próprio peso. Com a crise bancária a partir de outubro, Madoff teve pedidos de resgates de US$ 7 bilhões e a pirâmide desmoronou. É como disse Brad Alford, que comanda a consultoria de investimentos Alpha Capital, de Atlanta (EUA): "Não havia lucros, apenas o dinheiro de outras pessoas."

Entre os clientes de Madoff, estão algumas das principais instituições financeiras do mundo, como o britânico HSBC, o espanhol Santander e o francês BNP Paribas, além de outros pesos pesados. Na Espanha, os prejuízos da fraude chegariam a € 3 bilhões. Na Inglaterra, passariam dos US$ 5 bilhões. Maior financeira do Japão, a Nomura Holding poderá acumular danos de US$ 300 milhões. Celebridades como a atriz Uma Thurman e o jogador de basquete Kobe Bryant também torraram milhões de dólares no esquema. Madoff provocou uma epidemia global. Bancos de mais de 40 países usavam seus serviços. Por isso mesmo, a contaminação alastrou-se numa velocidade espantosa e num momento em que as grandes instituições financeiras globais vivem sob desconfiança. Só faltava um Madoff para aumentar o pânico.
Investidores brasileiros com recursos no Exterior também perderam dinheiro. Não se sabe exatamente quanto, mas eles eram grandes clientes do Fairfield Greenwich Group, empresa de Connecticut (EUA) que distribuía os malfadados investimentos entre os milionários de vários países. Com ativos de US$ 14,1 bilhões sob gestão, o grupo afirmou ter direcionado US$ 7,5 bilhões para veículos financeiros ligados a Madoff. Esse dinheiro virou pó. Gestor do Fairfield, o financista Walter Noel é casado com uma brasileira, Mônica Haegler. O casal tem cinco filhas e usava o bom trânsito da família na alta sociedade de Milão, Londres, Madri e Genebra, além do Rio de Janeiro, para oferecer acesso aos fundos. Uma mansão de Noel na paradisíaca ilha Mustique, no Caribe, chamada de Iemanjá, era o mais luxuoso ponto de encontro com amigos e clientes. Madoff foi muito bem representado pela família Noel durante quase 20 anos. Quatro dos cinco genros de Walter Noel trabalham para ele. Seu cunhado, o empresário Alex Haegler, é pai de Bianca, que atuava como gerente de marketing do Fairfield no Brasil. O clã tem ligações familiares e de amizade com Jorge Paulo Lemann, dono da Inbev.



LA GARANTIA SOY JO
Site da empresa de Madoff na internet usava o nome do dono para atrair clientes, como se o fato de tê-lo gravado na porta fosse garantia de alguma coisa. Não era. Investidores de 40 países foram lesados pela maior fraude financeira da história depois da Enron, de 2001




No mundo das altas finanças, relacionamento e confiança são fundamentais. Como os fundos de Madoff ofereciam retornos constantes, com baixa volatilidade, brasileiros avessos ao risco foram seduzidos.
A fama do ex-presidente da Nasdaq entre os milionários era tamanha que muitos deles solicitavam suas aplicações aos serviços locais de private banking (gestão de fortunas). Clientes do Safra na Europa e nos Estados Unidos pediram para aplicar nos fundos de Madoff. Segundo um porta-voz do Safra em Nova York, o banco no Brasil não tem investimentos nem exposição de crédito junto a Madoff. Clientes do HSBC e do Santander também foram lesados. Ninguém suspeitava de que se tratava de uma fraude gigantesca, tampouco exigia muitos detalhes das aplicações. "Todo mundo que trabalhava com milionários oferecia os fundos do Madoff, que era visto como uma espécie de Warren Buffett", afirma um ex-banqueiro de investimentos. Para investir com o "guru" de Greenwich, não bastava ter dinheiro, era preciso ser indicado, diziam os Haegler no Country Club carioca, segundo relatos de investidores lesados. Agora, essa aura de mistério se dissipou. Alex e Bianca Haegler não retornaram os pedidos de entrevista da DINHEIRO. No site do Fairfield, os gestores se dizem chocados com a fraude e pedem paciência aos clientes neste momento difícil. Tarde demais.
O episódio clama por uma pergunta inevitável: como um investidor consegue enganar tanta gente por tanto tempo? A resposta está numa única palavra: confiança. Madoff ganhou o respeito de bilionários e grandes corporações ao assegurar rendimentos entre 10% e 12%, independentemente das condições de mercado. As contas administradas pela Bernard L. Madoff Investment registraram ganhos de 1% ao mês com a pontualidade de um relógio. Por mais surpreendente que possa parecer, esse retorno absurdamente estável não despertou desconfiança. É mais ou menos assim. Um bilionário ganha dinheiro com Madoff e, feliz da vida, avisa seu colega do country club. Este, por sua vez, experimenta os serviços do gestor e, também satisfeito, atrai novos investidores. Nos últimos tempos, Madoff ia pessoalmente à Flórida buscar clientes - a maioria aposentados. "Muitas pessoas em Palm Beach foram roubadas por esse podre", afirmou o bilionário Donald Trump. "Eu o via em Mar-a-Lago, em Palm Beach. Ele é uma desgraça."


US$ 10 MILHÕES
foi quanto Madoff pagou de fiança para voltar ao luxuoso apartamento de Manhattan, em Nova York, avaliado em US$ 9 milhões. Além disso, não pode sair de casa à noite


A operação era essencialmente familiar. O irmão Peter Madoff chefiava o escritório de compliance (obediência às leis e regras dos reguladores). Seus dois filhos, Andy e Mark, estavam no negócio, na área de negociação de ativos. A sobrinha Shana Madoff cuidava do departamento jurídico. Na semana passada, começaram a vir à tona outros fatos estranhos. Segundo Madoff, a empresa responsável pela auditoria de suas contas é uma certa Friehling & Horowitz. Parece que se trata de uma mentira deslavada. A tal companhia declarou à Justiça americana que não faz uma auditoria há, acredite, 15 anos! Outro fato inacreditável: enquanto tinha entre seus clientes muitos fundos de pensão e mesmo fundações beneficentes, o instituto Lymphoma Research Foundation - dedicado à pesquisa de tratamento de câncer e que é mantido por Bernard Madoff - não aplicava seus recursos nos fundos administrados por ele.
Aos 70 anos, Madoff era um sujeito relativamente desconhecido, embora tenha sido nos anos 90 presidente da bolsa eletrônica Nasdaq. Antes do escândalo, seu nome raramente aparecia na imprensa especializada. Só quem tinha muito dinheiro o conhecia. Ele é um apaixonado por barcos. Tem três lanchas e dois veleiros. A cada seis meses, largava tudo para navegar nas águas mansas e cristalinas do Caribe. É tão obcecado por dinheiro e navegação que suas leituras restringem-se aos dois assuntos. Ao que consta, é um precavido. Na quarta-feira 17, a polícia inglesa descobriu, num cofre de seu escritório em Londres, € 8 milhões em dinheiro vivo. Ao ser preso, pediu aos quatro policiais que o abordaram alguns minutos a sós com os filhos. Disse aos dois que a Bernard L. Madoff Investment Securities não passava de "uma grande mentira".

CONEXÃO NO BRASIL
Bianca Haegler, filha do empresário Alex Haegler (na foto com a esposa, Sandra), representava a firma que revendia o fundo de Madoff no País



Será que nem eles nem os funcionários da empresa sabiam do golpe? Como alguém poderia fazer uma fraude de US$ 50 bilhões sozinho? "Falando como judeu no Natal, eu ficaria menos chocado se o Papai Noel aparecesse em minha casa do que se Bernie Madoff tiver armado essa fraude sozinho", disse Ron Geffner, sócio da firma de advocacia Sadis & Goldberg, especializada em serviços para fundos de hedge. Para manter a fraude de pé por tanto tempo, Madoff teve de forjar relatórios financeiros e falsificar registros de títulos e de lucros, numa operação complexa diante de tamanho volume de recursos. Em 2001, ele chegou a ser investigado pela SEC, a agência reguladora do mercado americano, mas escapou. Agora, grandes firmas de auditoria, como PriceWaterhouseCoopers, KPMG e Ernst & Young, que auditavam fundos investidores em aplicações de Madoff, começam a ser cobradas pelos clientes dos bancos. Será que ninguém percebeu nada durante 19 anos?



A pirâmide de Ponzi
O homem que virou sinônimo de golpe financeiro nos anos 20 morreu no Brasil



PONZI, O VIGARISTA: fraude durou apenas 7 meses

Bem antes de Bernard Madoff fazer história, outro estelionatário utilizou o esquema da pirâmide para aplicar seus golpes. Na década de 1920, o ítalo-americano Carlo Ponzi enganou mais de 30 mil norte-americanos ao prometer um retorno de 100% em apenas 90 dias. Ele chegou a ganhar diariamente US$ 250 mil. Os primeiros clientes receberam sua parte da bolada, mas os últimos perderam tudo. Preso depois de sete meses, Ponzi cumpriu pena de 11 anos. Aos 49 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a viver de pequenos negócios e aulas de inglês. Morreu no hospital da Santa Casa, pobre, paralítico e cego. Tinha 67 anos.
O golpe da pirâmide é simples. A base é composta pelos últimos investidores captados. O montante vai diretamente para o topo e todos os outros intermediadores envolvidos, da primeira escala à última, são remunerados com uma comissão. No caso de Madoff, os integrantes da pirâmide desconheciam fazer parte de um esquema fraudulento. Captavam clientes, ganhavam a comissão, mas achavam realmente que se tratava de um fundo de investimento. O esquema não poderia dar certo para sempre. Por mais que o número de investidores crescesse, haveria um momento em que a entrada de recursos diminuiria ou se esgotaria. Foi o que aconteceu.




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