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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Cansado da vida que leva?O sabático pode ser a saída

"A arte de parar para se reciclar" é uma das definições para sabático, período que, na opinião do administrador Herbert Steinberg (foto), todos deveriam ter para se reavaliar. O assunto foi apresentado em palestra no CRA-SP



Quem nunca sonhou parar com o que está fazendo e, literalmente, cair no mundo? Certamente muita gente. No entanto, pela necessidade de se manter empregada ou, então, pela falta de um projeto previamente estabelecido, falta coragem para levar a idéia adiante. Para a maioria, parar em plena atividade é uma loucura total, mas para o consultor em desenvolvimento humano e governança corporativa, Herbert Steinberg, não tem nada de insano parar de vez em quando se o objetivo for recarregar as baterias. "Só que não basta parar por parar. É preciso ocupar o tempo com algum projeto que proporcione a oportunidade de autocrescimento. Em outras palavras, uma reavaliação da vida pessoal ou profissional, um afastamento para rever rumos", afirma.

A modalidade é conhecida como sábatico, um período destinado à reciclagem, que pode ser mais longo do que os tradicionais 30 dias de férias. "Ou seja, o tempo necessário para produzir mudanças, o que depende de cada projeto. De acordo com a estatística, o tempo ideal é de seis meses, mas se for necessário dois anos para construir uma ONG, por exemplo, e esse for o objetivo, esse será o tempo", enfatiza Steinberg ao falar sobre sua experiência sabática: percorrer a pé, em cinco semanas, os 884 quilômetros que separam Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, a Santiago de Compostela, na Espanha.

Avaliação da rota

Segundo ele, a decisão de fazer o sabático levou em conta as inquietações do seu tempo de consultor. "As pessoas traziam problemas de outplacement, processos de ruptura, perda de identidade, que se agravavam pela falta de projetos, mesmo estando elas no ápice de suas carreiras. Era um filme que eu não queria repetir. Não queria me deixar fascinar pela carreira e abandonar minha vida pessoal. Foi, então, que senti a necessidade de parar e refletir sobre minha condição no mundo, confirmando ou modificando trajetórias", diz.

Ele lembra que muitos executivos somente resolvem investir em reflexão quando estão internados numa UTI. Essa situação-limite leva-os a repensar a vida, a carreira, o passado e o futuro. "Passam tanto tempo atados às obrigações do trabalho que não têm tempo para pensar se estão realmente fazendo o melhor para eles, seus familiares ou empresas. Muitos perdem o emprego justamente porque não param a tempo para uma avaliação de rota", justifica.

Negociação íntima

O sabático é um período de estudo, de criação artística ou de qualquer outra coisa ditada pelo sonho individual. Por conta disso, sua realização exige planejamento detalhado, com início, meio e fim. Tudo deve ser analisado e revisado exaustivamente para que os momentos de reflexão possam perdurar. A beleza do projeto, segundo Steinberg, está na volta revigorada, na melhoria que proporcionará no relacionamento familiar e com o trabalho.

Steinberg afirma que o sabático pode ser desenvolvido através da prestação de serviços em uma ONG, uma caminhada, um passeio, enfim, atividades que, na maioria das vezes, implica em abandonar temporariamente a família, além de convencer o presidente da empresa de que se trata de alguma coisa realmente importante.

De acordo com o consultor, a parte mais penosa na execução de um projeto é a negociação íntima, a que exige abrir mão de padrões estabelecidos e que mexe com zonas de conforto. De qualquer forma, seja qual for o projeto, as pessoas devem verificar se estão qualificadas para seus sonhos. "Ouça suas emoções e sentimentos, não se deixe levar pelas conveniências nem espere ser sacudido por um grande abalo. Estabeleça o que é sucesso para você", ensina.

Um novo ciclo de fertilidade

De acordo com Steinberg, o termo sabático vem do hebraíco "shabbath" e significa repouso. "É o dia de recolhimento semanal dos judeus. No Antigo Testamento há referência ao ano sabático: um ano, a cada seis, em que a terra fica sem cultivo para depois iniciar um novo ciclo de fertilidade", relembra.

O sabático é secular nas universidades norte-americanas. Professores ou funcionários graduados, que trabalhem seis anos seguidos na mesma escola adquirem o direito de se afastar por um ano para cuidar da própria reciclagem, geralmente atrelada ao estudo obrigatório de algum tema.

No Brasil, a prática também chegou a algumas escolas superiores, entre elas a EAESP/FGV. Com a finalidade de manter o padrão de excelência acadêmica, essas escolas promovem programas de reciclagem no País e no exterior e semestres sabáticos com desenvolvimento de novas pesquisas.


Quem tem visão de futuro, adota
Cerca de dois terços do PIB brasileiro vêm da área de serviços, onde quem manda é o talento humano. Steinberg argumenta que as empresas com visão de futuro devem estar atentas a essa realidade, pois o crescimento depende do conteúdo dos softwares instalados nas cabeças das pessoas. "Quanto maior for, maior será o benefício", esclarece.

Para ele, a nova ordem econômica acirrou a competição por qualidade. As empresas precisam, mais do que nunca, destravar a criatividade dos seus colaboradores, o que pode ser alcançada através da reciclagem.

No Brasil, ainda são poucas as empresas com políticas de sabático. Uma delas é a American Express. No ano passado, dois funcionários partiram para estudar no exterior com parte do curso subsidiado pela empresa e a garantia do emprego na volta. Outra é o escritório de advocacia Pinheiro Neto, que adotou um programa de aperfeiçoamento no qual jovens promissores advogados são enviados ao exterior para um período de estudo ou de estágio.

Nos Estados Unidos, 20% das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune oferecem sabáticos a seus funcionários. E o que é melhor: eles recebem remuneração integral no período.

Também são inúmeras as empresas que vêm concedendo paradas breves e oferecendo espaços para desconcentração, professores para meditação, ginástica e, até mesmo, massagistas para atendimento rápido durante o expediente. "As corporações estão percebendo que a tensão da rotina diária diminui a produtividade e que seu futuro depende da boa saúde dos seus colaboradores".

Endorfinas

O trabalhador vive cercado de apelos que incentivam a produção ininterrupta. É comum executivos cumprir jornadas semanais de 70 horas. Em ambos os casos, os motivos podem ser irrestíveis para tanto trabalho, mas, fazendo uma alusão a uma propaganda de um cartão de crédito, parar para refletir os próprios rumos não têm preço.

"Ao caminhar, percebe-se que as endorfinas trabalham a seu favor e protegem seu corpo contra a dor, já que a euforia é muito grande. Quinze dias de Compostela faz você acreditar que, em determinados momentos, vale mais um rolo de papel higiênico do que o cartão de crédito", enfatiza ao dizer que da mesma forma que as empresas investem na criação de produtos ou de novos mercados, as pessoas também deveriam investir na realização dos seus sonhos.

Experiência retratada em dois livros

Mais do que contribuir para uma profunda reflexão sobre a vida pessoal e profissional, a peregrinação pelo "Caminho de Santiago" levou Steinberger a escrever dois livros: "Sabático - Um Tempo para Crescer" e "Um executivo no caminho - da razão ao coração".
No primeiro, ele retrata para que serve e como executar um sabático, além de demonstrar como negociar afastamentos do trabalho e dos familiares. No outro, como surgiu a idéia de se "aventurar" pela Espanha e como transcorreu a viagem.

Os dois livros têm renda destinada à Fundação "O Pequeno Cotolengo", uma instituição beneficiente.

Informações pelo www.sabatico.com.br

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