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sábado, 7 de fevereiro de 2009

PROPOSTA DESCABIDA

Romero Vieira Belo



O senador Cristovam Buarque é um homem público qualificado, um educador consagrado (foi reitor da Universidade de Brasília), demonstrou competência gerencial ao governar o Distrito Federal, mas forçou a barra ao apresentar projeto que prevê a retirada da bandeira nacional do lema “ordem e progresso”.
O projeto, carregado de “simbolismo”, como ele próprio define, condiciona seu efeito prático à consecução ou não de um objetivo que, a qualquer educador realista, tem jeito de utopia: a total erradicação do analfabetismo no Brasil, nos próximos 5 anos. Ou seja, se até 2014 ainda for encontrado analfabeto no país, o lema “ordem e progresso” será retirado do Pavilhão Nacional.
Exagero do professor Buarque. Rompante do ex-candidato a presidente da República. Como professor ele sabe perfeitamente que nem uma revolução educacional faria, em 5 anos, o que não se conseguiu em décadas: instruir todas as faixas da população brasileira. Para tanto, seria indispensável atingir previamente outra meta utópica: acabar com a miséria que assola o interior do País e as periferias dos grandes centros urbanos. E atinge, particularmente, as crianças órfãs de pais vivos...
Claro está que, como provável postulante à sucessão presidencial em 2010, Cristovam Buarque quer marcar presença, no Congresso e no cenário nacional, como um defensor apaixonado da educação. Palmas para sua excelência, mas, com todo o respeito que está a merecer, ele não precisa de um projeto desses para se tornar conhecido ou para demonstrar seu apreço pelo ensino. Seria mais objetivo, aí sim, tentar sensibilizar o Parlamento a obrigar o governo a investir mais na escolarização.
Nos anos 70, um outro senador, o capixaba João Calmon, lançou a “Década da Educação” e saiu a percorrer o País, tentando “despertar” a sociedade. Ele costumava repetir que a problemática brasileira se resumia a 3 itens: educação, educação e educação. Seu discurso, tão ou mais empolgante que o de Cristovam Buarque, não surtiu efeito. Desde então a massa de ignaros só aumentou, nada obstante o esforço do governo militar que tentou, em vão, acabar com o analfabetismo criando o Mobral.
Ordem e progresso são palavras imexíveis, como diria Rogério Magri, o vernaculista acidental do governo Collor. Não se trata de uma proposta, mas de um estado de espírito. A ordem institucional e em todos os sentidos possíveis, representa um sentimento de um povo. O progresso, esse sim, constitui um objetivo a atingir, em suas múltiplas faces. Progresso é avanço, desenvolvimento, evolução – em todas as áreas de atividade abrangendo o contexto da nação em sua amplitude federativa.
O professor Buarque sabe muito bem disso, mas, dessa vez, se deixou trair pela impaciência. E o fato é que o valor de seu projeto se restringe, unicamente, à repercussão que terá, chamando a atenção da sociedade para o setor educativo.

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