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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Preconceito agrava casos de esquizofrenia .

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A incompreensão da família afasta ainda mais o doente da realidade

Trabalho, amigos e amores fazem parte da rotina de quem sofre com esquizofrenia. Diferente de algumas doenças mentais, que levam ao isolamento dos pacientes, o problema do personagem de Bruno Gagliasso na novela Caminho das Índias não impede que as pessoas mantenham atividades corriqueiras e conversas comuns. Isso seria uma vantagem, não fosse a incompreensão da família nos momentos de crise.

"Há graus de esquizofrenia. Em alguns deles, com o acompanhamento médico apropriado, o paciente consegue manter uma vida normal, com estudos e emprego", afirma a psiquiatra Vânia Baggio, do Hospital Bandeirantes. A doença, que compromete o contato com a realidade, surge sem que seja possível notar algum indício prévio. Segundo a médica, o único fator que leva os especialistas a realizarem uma investigação mais cuidadosa são casos anteriores da mesma doença na família. "A gente se preocupa com a hereditariedade, mas é só. Não há testes ou um procedimento que indique a presença da esquizofrenia", diz a especialista.

Por isso, muitas vezes é difícil para a família entender as dificuldades que o paciente enfrenta. As pessoas não estão acostumadas ao comportamento estranho e nem ao raciocínio confuso, o que acaba gerando incompreensão e até brigas. Um estudo recente, divulgado pela revista médica The Lancet, mostra que a discriminação prejudica cerca de 43% dos indivíduos vítimas de esquizofrenia. E o pior: são os parentes e os amigos que encabeçam as atitudes agressivas. A pesquisa envolveu esquizofrênicos de 27 países e também revelou que a rejeição atrapalha até o desenvolvimento profissional dos pacientes, que acabam desistindo de procurar emprego com medo do preconceito na seleção.

Sinal de problema

As primeiras crises surgem quando o paciente encara os chamados fatores estressantes. Na mulher, o início da menstruação, a primeira gravidez ou o nascimento de um filho são algumas situações que tendem a desencadear a esquizofrenia. Na novela, o personagem de Bruno Gagliasso sucumbe quando não suporta mais as pressões da mãe, para que ele saia conquistando as mulheres, e do pai, que deseja transformá-lo num empresário (Tarso, nome que assume em Caminho das Índias, é um jovem que tem aptidões artísticas e não está interessado em assumir os negócios da família).

O uso de drogas, como cocaína, crack e LSD, também dispara as alucinações nas pessoas que já têm a doença. Não é raro acontecerem alucinações, em que o paciente escuta vozes ou enxerga vultos que só existem na realidade mental dele.

O tratamento é feito com o uso de remédios antipsicóticos. Mas, sozinhos, eles não resolvem a doença e ainda podem gerar uma série de efeitos colaterais, como salivação excessiva, intestino preso e endurecimento muscular. O ideal é combinar os medicamentos à terapia e atividades que aumentem co contato do paciente com a realidade. Aulas de pintura, de desenho e de música são grandes aliadas do controle da esquizofrenia.

Como a intenção é aumentar o máximo o vínculo do paciente com a realidade, as internações só são realizadas nos casos mais graves. "O ideal é estimular o contato do esquizofrênico com a família, para que ele se sinta parte daquele núcleo e interaja", afirma a psiquiatra. A formação de grupos de apoio também é muito importante e ajuda as famílias a superarem o problema e diminuírem o preconceito, sentimento que torna a doença um problema ainda maior. "A terapia, tanto para o paciente quanto para a família, é fundamental como ferramenta que estimula a inserção social, uma das maiores dificuldades numa pessoa que, de um modo simples, corta a ligação com a realidade externa", diz a psiquiatra do Hospital Bandeirantes

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