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domingo, 12 de abril de 2009

Conversar pode ser o melhor tratamento contra a disfunção erétil

Segundo especialista, muitos homens com o transtorno passam a evitar todo tipo de contato físico com a mulher por temerem que ela queira sexo, provocando prejuízo emocional
É preciso afastar suspeitas e conversar com parceiro
Vergonha. Angústia. Medo de fracassar. Tomado por sentimentos como esses o homem com disfunção erétil evita o sexo com a mulher, que por sua vez encara a distância conjugal como sinal de infidelidade - ou, no mínimo, como pista de que ela já não é interessante a ponto de aguçar o desejo masculino.

A crise do silêncio entre parceiros que passam pela DE norteou uma pesquisa conduzida pelo psicólogo Oswaldo Rodrigues, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. "Ao analisar 200 casais percebi que 85% das mulheres desses pacientes acham que o marido tem outra mulher e por isso já não manifesta desejo por ela", conta.

Segundo o terapeuta, muitos homens com DE passam a evitar todo tipo de contato físico com a mulher por temerem que ela queira sexo. "Até a troca de carinhos durante um filme que se vê a dois desaparece, provocando um distanciamento entre o casal, com grande prejuízo emocional", diz.

Outros, de acordo com Rodrigues, depositam na companheira a culpa pelo desempenho insatisfatório. "Muitos acreditam que se a parceira for bonita e jovem o problema desaparecerá, mas isso não é verdade. Cerca de 82% dos homens que procuraram uma nova parceira perceberam que o problema persistia."

Na opinião de Rodrigues, a DE tem uma carga psicológica intensa porque perturba a auto-identificação do paciente com o gênero masculino. "Ele sente-se menos homem, ou meio homem, porque acredita que só será macho se for capaz de cumprir as funções sexuais que acredita estarem designadas ao homem: ereção e penetração. Essa visão tacanha, de que sexo é algo só genital, se aprende desde a infância. É por isso que muitos escondem o problema da DE por anos", explica. De fato, segundo dados do Prosex (Projeto Sexualidade), do Hospital das Clínicas, o brasileiro com DE leva cerca de 2 anos e três meses para buscar ajuda.


Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Seccional São Paulo e professor titular de urologia da Unicamp, Ubirajara Ferreira acredita que o embaraço conjugal trazido pela DE - mediado por desconfianças e cobranças - agrava ainda mais a situação. "O homem já está com dificuldades e aparece um problema ainda pior com a esposa. Isso vira uma bola-de-neve, que só melhora quando pedimos que a parceira venha ao consultório.


Na nossa cultura latina o homem foi forjado para ser a pessoa que leva dinheiro para casa e que satisfaz a mulher. Ele acha que tem essa obrigação sexual, sob pena de a mulher procurar outro, mas nem sabe se ela quer mesmo fazer sexo todo dia. O homem fala muito pouco; falta diálogo com a parceira", analisa.

A pressão conjugal advinda com a dificuldade sexual entra na gama de fatores emocionais que interferem na DE. "Há estudos minuciosos sobre as causas orgânicas da DE, mas na prática diária o que observamos é que os fatores psicológicos também estão associados à piora do quadro. Em 70% dos casos há a influência de um fator psicológico: pode ser o estresse, o receio da crise econômica, a falta de estímulo ou fantasia no relacionamento e até as cobranças por parte da companheira", detalha.
O peso da responsabilidade pelo sucesso sexual que recai sobre os ombros masculinos é, segundo Ferreira, fonte de angústia em pacientes com DE. "O homem leva a ferro e fogo essa questão da masculinidade, da potência, da virilidade. Alguns chegam a verbalizar isso, dizendo que preferem morrer a ficar impotente."

Para Ferreira, o desafio dos profissionais que lidam com a sexualidade masculina é oferecer novos parâmetros ao homem. "A maioria das meninas de 12, 14 anos acaba procurando o ginecologista quando menstrua, até mesmo por insistência da mãe. E os meninos dessa idade, será que são levados ao urologista? No geral o garoto vira homem sozinho, sem orientação profissional. Recebe, no máximo, informações do pai ou de amigos mais velhos e acaba criando fantasias sobre o tema que irá levar para o resto da vida. É isso que nós, urologistas, temos pleiteado: virar o médico do homem, tal como o ginecologista se apresenta para a mulher", compara.

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