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sábado, 25 de abril de 2009

Daquilo que não mata e nem engorda....

Fico besta quando vejo essas entrevistas com pessoas famosas (ou não) e perguntam sobre algum arrependimento. Muitas delas respondem com o já cansado “só me arrependo do que eu não fiz”. E eu tenho ficado besta constantemente, porque não acredito em pessoas que nunca tenham feito nada do que se envergonhassem.

Refletindo sobre o desimportante tema – alguém precisa se dar às questões desimportantes – fiquei imaginando que as pessoas se arrependem cada vez menos porque vivemos em uma cultura que valoriza, estimula e apoia os atos de impulso.

Repare mesmo: somos diariamente instigados a comprar por impulso. É para isso que servem as gôndolas encostadas nos caixas de supermercado. Àquela altura você já perdeu a lista de compras (alguém ainda faz?) e não vai resistir a se dar uma recompensa por sobreviver a mais um dia. E não é preciso pensar muito: se é caro, use o cartão; se não te serve, jogue no lixo; se engorda, tome aqui esse remedinho que emagrece. A fast-felicidade não tem preço.

Existe ainda o consumo desenfreado de pessoas. A música ensina: “já beijei um, já beijei dois, já beijei três, hoje eu já beijei e vou beijar mais uma vez”. É que as possíveis consequências da troca de fluidos são um assunto a ser postergado para sempre nesta roda viva de relações líquidas, de laços frouxos e de belas fotos em perfis do orkut. Pegou e não gostou? Bloqueie e delete do MSN. Nunca fomos tão acessíveis e acessáveis, mas nunca estivemos tão emocionalmente indisponíveis.


É que as possíveis consequências da troca de fluidos são um assunto a ser postergado para sempre nesta roda viva de relações líquidas


E assim vamos desvirtuando o conceito de hedonismo, fazendo do Ter um verbo muito mais importante do que o Ser. Consumidores vorazes de produtos e pessoas, passamos tanto tempo embalados por inúmeras demandas e ordens mundiais, que não dá nem tempo de colocar a mão na consciência. Não temos tempo para o arrependimento, por exemplo.

Não estou falando de culpa católica. Falo de reavaliações. Coisa de quem busca acertar, nem que seja na próxima. Se não deu tempo ou se não houve maturidade suficiente para se preocupar com um assunto, talvez se faça necessário ocupar-se dele depois. Investigar se as atitudes foram as mais acertadas.

Talvez fosse bom se parássemos um pouco para pensar e dar tempo de sentir aquele mal estar do arrependimento. Quando ferimos alguém que amamos. Quando pedimos aquele corte de cabelo infeliz. Quando não ouvimos os conselhos das mães. Quando falamos demais, bebemos demais. Ter vergonha de não ter agradecido ao senhor gordinho que guardou o lanche de bordo enquanto estávamos dormindo no avião. Concluir que foi burrice comprar uma calça menor. Arrepender-se daquelas vezes em que se disse sim e perdeu-se tempo com quem não merecia. E lamentar, pensando que se pudesse, voltaria no tempo, sorriria blasé e diria naquele tom de quem sabe das coisas: “Não”.

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