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domingo, 12 de abril de 2009

Só quero sexo....

Eu não amo ninguém, embora seja uma pessoa sensível. Os românticos me aborrecem. Mas, às vezes, eu me angustio por ser incapaz de me apaixonar. A angústia, no entanto, logo passa - assim que eu me vejo diante de alguém que me atrai. Não fujo da atração, vou até o fim, mas o sexo me basta. Me esforço para achar a pessoa interessante e não consigo. Tento levar o namoro, mas o tédio toma conta de mim. Eu não amo ninguém. Acho que ninguém ama ninguém. As pessoas forçam a barra por medo da solidão. Será que nós somos todos egocêntricos?


O sexo te basta e o amor te entedia. Tudo bem. Sabendo ou não, a tradição à qual você pertence é a dos libertinos franceses, que sempre fizeram pouco do amor. Segundo Crebillon, escritor do século XVIII, o libertino se serve do amor para assegurar o triunfo da sua fantasia, erige a inconstância em princípio e só se interessa pelo prazer. Não dá a menor importância ao sentimento na conquista amorosa. A sua única meta é seduzir as mulheres, romper depois com elas e tornar público este triunfo. Para o libertino, nada se passa no segredo dos corações e nem deve ficar contido no espaço da alcova. A indiscrição é uma obrigação absoluta. Do ponto de vista dele, o espírito tem as suas leis, que não são as do coração, e as razões do coração diferem fundamentalmente das razões do corpo.

Já no século XVIII ninguém era obrigado a amar. Mas por que você faz do seu desinteresse pelo amor uma regra e conclui que "ninguém ama ninguém", desqualificando um sentimento no qual a grande maioria das pessoas se reconhece? A sua frase é uma generalização análoga a "homem nenhum presta" ou "entra de sola que mulher gosta de apanhar", como diz uma personagem de Nelson Rodrigues. São formulações abstratas que só servem para minar a relação entre as pessoas e os sexos. Podem figurar num romance ou numa peça de teatro, mas são nefastas na vida social. No mundo em que vivemos, não há lugar para elas.

A contenção no discurso é fundamental para que possamos virar um dia a página da violência. Cada uma das nossas palavras tem conseqüências para nós e para os outros. O melhor exemplo talvez seja o de uma lei alemã que proíbe dizer que o holocausto não aconteceu. Fiquei sabendo desta lei em Berlim e tive grande admiração pelo povo alemão. Soube tirar uma verdadeira lição da guerra. Nem tudo se pode dizer. Porque a palavra deixa a sua marca. Isso acaso significa que eu sou contra a liberdade de palavra? Obviamente não é disso que se trata, e sim de não confundir esta liberdade com o descontrole. Ser livre é fazer e dizer aquilo que a gente pode. O mais é puro excesso.

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