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sábado, 25 de abril de 2009

Pelo resgate das palavras perdidas.....

Eu nem sei quando foi que o biliro virou grampo, mas sei que faz é falta
Não são só as rugas. Não são só os amigos casando, separando e tendo menino a torto e a direito. Nem apenas as músicas favoritas que vão começando a tocar nos programas de velharias. Um bom indicador de que a gente está ficando velho é quando as coisas vão mudando de nome. Ou diminuindo. Ou mesmo, assumindo estrangeirismos bisonhos. Às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: antigamente, o meio de transporte composto de duas rodas – ou quatro para quem é café com leite – um quadro e um guidão, se chamava bicicleta. Hoje em dia é capaz da gente não conseguir se comunicar se não soubermos que o certo agora é bike.

A bike é um caso de estrangeirismo bisonho. Tem ainda o caso da mudança de estrangeirismo de acordo com a moda. Antigamente – esta palavra é de lascar! Há menos de 30 anos – assim é melhor – o que se usava para denominar a peça do vestuário que consiste em uma espécie de maiô para exercícios em terra, era a palavra collant. Nestas “antigamências” as meninas da ginástica olímpica, rítmica, do balé e do jazz usavam collants como figurinos para suas aulas e apresentações de estripulias. Alguém se lembra disso? Agora não, agora é body. E ninguém mais faz jazz. Ou será que este último mudou de nome também? Vai saber...

E a alcatifa? Porque danado mudaram o nome da alcatifa? Pra mim alcatifa é a palavra mais bonita da língua portuguesa. Aliás, nem muito portuguesa é, pela sonoridade me parece ter origem árabe: Al Catifa. Deve significar alguma coisa linda, digna das Mil e Uma Noites. Nela, vejo e ouço tanta poesia, que nem vou procurar no Google o que significa para não me decepcionar. Já basta terem acabado com a alcatifa e no lugar dela colocaram o antipático carpete. Sem charme, sem apelo. Palavra seca, áspera, que não remete a nada.


vejo e ouço tanta poesia, que nem vou procurar no Google o que significa para não me decepcionar


Tem ainda o biliro. O biliro é um caso sério. Eu nem sei quando foi que o biliro virou grampo, mas sei que faz é falta. Tanta falta que não sou só eu que sinto: Cláudio Assis colocou esta palavra na boca da personagem Dunga, vivido por Matheus Nachtergaele no suculento Amarelo Manga. Do nada, Dunga, que tem 0,5 cm de cabelo na cabeça, pede para alguém comprar uma caixa de biliros. E fim de papo, foi só isso mesmo, Dunga não vai “fazer o McGiver” e usar o biliro num salvamento primordial para o desenrolar do filme. Foi um acesso de saudade que Assis teve, uma vontade louca de ouvir alguém dizendo biliro de novo. O mesmo faria eu, se o poder de colocar palavras nas bocas alheias tivesse.

O mais estranho é que estas mudanças acontecem rápida e sorrateiramente. Como de se de uma hora para outra, todos resolvessem que não faz mais sentido usar determinada palavra e está na hora de mudar. Mais ou menos como o que acontece com aquelas invencionices que de vez em quando aparecem e são repetidas até dar uma dor, como “a nível de” ou “proativo” . De repente todo mundo fala, ninguém se lembra de como era antes e as pobrezinhas ficam esquecidas, servindo apenas de atestado de anacronismo para quem as traz à baila.

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