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domingo, 5 de abril de 2009

Mulheres maduras contam as vantagens e desvantagens de praticar o sexo casual.

Nunca é tarde

Sexo casual, para quem não tem familiaridade com o jargão, é aquele praticado por pessoas que nunca se viram antes e permanecem estranhas depois; não trocam telefones e saem da experiência sem nenhuma expectativa de se verem no futuro. É sexo e só. A modalidade é razoavelmente comum entre o pessoal que está no auge da vida sexual, mas algo praticamente impensável para aquela faixa de mulheres que já têm netos.

Algumas mulheres se sentem ofendidas quando questionadas sobre experiências do tipo assim, cara a cara. Não tanto pela expressão “sexo casual”, mas principalmente pela (muito mais ofensiva) tarja “terceira idade”.

“O que você está querendo dizer? Quantos anos você acha que eu tenho?”, pergunta uma senhora de cabelos longos muito louros, franja, perfume doce, top de onça e calça de couro, chegando com uma amiga em um bar para solteiros. “Não é o nosso caso, não, querido. Procura que você acha”, debocha a amiga da primeira, aparentemente 60 e tantos anos, ajeitando o decote tomara-que-caia preto.

A hostess do local, Cida Meyer, 55, aparência de muito menos, é uma mulata elétrica, falante e espirituosa, que cuida das reservas antes da abertura da casa, dentro de um jeans muito justo. Enquanto coloca triângulos de papel em cima das mesas, com nomes como Terezinha, Gilda e Marlene, ela abre o jogo:

“Fui casada durante 24 anos com um alemão, tive cinco filhos, me separei. Estou há dez anos na noite, tive casos curtos, de um ano e meio, um pouco mais, com três homens que morreram, dois deles na mesma cama que eu. Um era casado e me deu um problema danado. Acordei de manhã, cutuquei, ele estava gelado, imagina... Bom, mas estou te contando tudo isso para dizer que, mesmo com essa experiência, ainda caio em lábia de homem. A gente é carente, não quer muito dos caras, não, mas uma noite só é pouco”, acha.

Nem sempre uma noite é pouco, diria a recepcionista Elza, que foi casada durante 28 anos, é viúva há sete e tem confessados 50 anos. Ela conta que estava em um bar quando o rapaz mais bonito “encafifou” com ela. “A mulherada toda dando em cima, mas o negócio dele era comigo. Perguntou: ‘Você não dança?’. Na pista, ele me disse que era professor e me convidou para sair dali. Ainda me provocou: ‘Gosto de gente atirada como você’.”

Elza o convidou para ir para seu carro, e aconteceu no banco de trás. “Larguei minha bolsa com tudo dentro no bar e fui. Foi muito bom, mas nunca mais o vi. Era para ser o que foi mesmo. Nem trocamos telefone”, conta.

Esta foi a segunda experiência de Elza. A primeira, ela conta, terminou em WO. “Eu o conheci em uma noite, conversamos e, no dia seguinte, ele já me convidou para ir ao motel. Eu disse que só iria se ele me prometesse que seria bonzinho. A gente se beijou, mas não rolou sexo. Fiquei de calcinha e sutiã, ele de cueca, a gente rolou na cama, até bati com a cabeça, mas, por incrível que pareça, o cara foi bonzinho e realmente não insistiu.”

De acordo com a aposentada Gilda, 59, casada, filhos de 29 e 26, existe uma espécie de senha dita lá pelas tantas, no meio do salão, pelo rapaz mais jovem. Ele convida: “Vamos?”. “É para entender: ‘Vamos para o motel (ou para o carro, para a casa da mulher)?’”, explica Gilda.

Ela diz que nunca aceitou, mas conta que já transou casualmente com um homem mais ou menos da idade dela: “Tinha bebido demais, estava com elas (aponta duas amigas que a acompanham sempre, de 60 e 63) e fui. Foi horrível. Só me lembro que apaguei logo depois que ele tirou a roupa e acordei na hora de ir embora do motel. Na saída, ele abriu a mala do carro, tirou um embrulho e me deu: era um cachorrinho de pelúcia, que andava e latia”, conta, rindo. Depois, Gilda voltou ao baile para pegar as amigas: “Sou a motorista do grupo, elas não têm carro”, diz.

Bailes Muitas mulheres acreditam que os homens mais velhos não “perdem tempo” com parceiras da mesma idade e preferem as garotinhas. Uma incursão pelos bares para solteiros da cidade mostra que não é bem assim; embora em menor número, os “tigrões” estão ali também.

O comerciante Roberto Rodrigues, 51, separado e casado de novo, é habitué dos “bailes”, como os freqüentadores chamam esses eventos, que em geral têm música ao vivo, repertório variado de “clássicos de todos os tempos” e casais dançando juntinho. Existem vários lugares especializados, e cada um é bom em um dia: a segunda é no Zais (Vila Mariana); a terça, no Opera São Paulo (idem); a quarta, no Memphis (Moema); a quinta, no Limelight (Cidade Jardim) e a sexta, no Bar Avenida (Pinheiros).

Mas por que Rodrigues vai a bailes freqüentados por mulheres acima de 40? Será que não prefere, como diz o bordão, “duas de 20”?

“Não me importo com idade. Às segundas, freqüento um lugar que só toca sertanejo e vai uma meninada”, diz o comerciante, cuja mulher oficial mora no interior e tem 35. Ele trabalha durante a semana em São Paulo e sai todos os dias –a reportagem o encontrou nas três noites em que foi atrás de personagens; sempre com um uísque na mão, o outro braço apoiado em alguma cintura feminina. “Já fiquei com mulher de 57. É outra coisa: são pessoas experientes, sabem conversar, têm classe.”

O preconceito faz imaginar que o sexo casual é mais fácil com uma menina, que vive na era do “ficar”. Errado, diz o experiente Rodrigues (que está sempre acompanhado do irmão, Maurício, 47). “Eu diria que as mais maduras se oferecem mais”, diz ele, um grisalho de estatura mediana, corpo em dia em um jeans, aparência acima da média para os padrões locais.

Com a representante comercial Edith dos Santos, 54, mãe de uma menina de 20, foi diferente. Seu parceiro de uma noite só (ela avalia que era seis anos mais novo) queria mais: “Eu o conheci aqui mesmo (no baile). Pintou um clima e fui. Ele me procurou depois, mas não era o que eu queria”, explica.

Um breve histórico de Edith: ela foi casada durante 25 anos com um homem 20 anos mais velho, que a traía sistematicamente, e por quem ela diz que foi muito apaixonada, até o dia em que acordou e disse “chega”. Agora, diz, sente-se livre e não quer ninguém “pegando no pé”; ao contrário, procura uma companhia para dançar. “Não venho aqui para arranjar alguém, como a maioria, quero me divertir. Só vou namorar quando for alguma coisa bonita...”, informa.

E o encontro casual do outro dia?

“Aquilo não foi bonito, foi só uma transa”, avalia. Ela conta que não padeceu da “ressaca moral” que pode acometer pessoas de todas as idades depois de uma noite só de sexo. “Eu fiz o que queria, aproveitei, não tenho motivo para me lamentar.”

A arquiteta Paula, 53, dois casamentos desfeitos, uma filha de 25 anos, foi em frente com um parceiro casual um ano mais velho que ela, e casado. O que a cativou e que parece agradar a todas as maduras foi a honestidade: “Em nenhum momento ele me prometeu nada; ao contrário, avisou que era casado, mas que sempre havia sido infiel. Ele não foi apenas um garanhão, entende?”, diz Paula.

Ela conta que até tem vontade de repetir a dose, mas se sente “estranha” com homens casados. Seu casamento, lembra, acabou por causa de “outra”. Ela engordou 18 quilos, emagreceu, recuperou a auto-estima e, agora, o ex-marido a ronda de novo. “Mas não quero mais.”

Todas as mulheres desta reportagem e talvez a maioria delas acreditam que têm uma relação com o sexo diferente dos homens. Dizem que até são capazes de transar por transar, mas têm necessidade de justificar com um “ele foi honesto” ou “não é com qualquer um, é preciso ter química” ou ainda “ele insistiu tanto!”.

Existe algo de libertador na atitude das que resolvem contar a experiência casual. Especialmente quando essas mulheres (a maioria) viveram casadas com o mesmo homem muitos anos. “Pode pôr o meu nome aí, vai. Aconteceu mesmo, a vida é minha”, decide a professora Sônia Maria, 52, depois da entrevista.

Ela diz que se casou jovem, sem pensar muito no que estava fazendo, permaneceu 25 anos com o marido, teve duas filhas e um dia se separou. O sexo casual aconteceu com um advogado mais novo que ela, rapaz mineiro, que ela conheceu no Bar Avenida.

“Ele estava em São Paulo a trabalho. Eu sabia que não iria mais vê-lo. Naquele caso fui, porque senti muita vontade de ir”, lembra Sônia, que deixou em casa a amiga com quem estava e seguiu para o motel Astúrias. “Levei-o logo para o melhor”, ela ri. “Ele reclamou depois que era caro.”

Sônia não se arrependeu. “Ele não me ligou, mas nós não combinamos nada mesmo”, diz, tranqüila.

Ao fundo, a trilha ataca com “Sylvia”, na voz potente de Elvis Presley, cuja letra diz: “These long lonely evenings/Here I am on the phone/Wondering if she will call/She said she would write me/’Cause she knows I’m alone/ But I hear nothing at all” (em tradução livre: “Nestas longas e solitárias noites/Em que estou junto ao telefone/ Imagino quando é que ela vai ligar/Ela disse que me escreveria/Porque sabe que estou só/Mas não ouvi nada até agora”).

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