Carina Rabelo
Casamentos sem sexo nem sempre indicam que as pessoas são assexuadas. Sem filhos, a administradora M.S., 43 anos, está casada faz 15 anos com o seu chefe e há seis anos não faz sexo - com ele. O vínculo sexual começou a ruir quando eles passaram a levar os problemas da empresa para casa. As conversas monotemáticas viraram rotina e a relação se desgastou. "Se o assunto não é a empresa, são os problemas de família", diz ela. Marido e mulher que trabalham juntos correm o risco de deixar o lado colegas de trabalho tomar conta da vida de casal, o que é um veneno para o erotismo.
Quando as relações sexuais se tornaram raras - e por obrigação -, M.S. e o marido pararam de comemorar o aniversário de casamento, segundo ela, um sinal claro da derrocada. Surgiram, então, as brechas para a entrada de um terceiro elemento. A administradora, porém, não cogita o divórcio. "Ficaria aliviada em me separar, mas não quero perder o padrão de vida", diz. "Preferia que ele também tivesse uma amante." De acordo com a advogada Estela Franco, especialista em direito de família e com vários anos de experiência em divórcios, esta é uma situação comum. "Muitos casais fazem sexo fora do casamento e se mantêm na relação como amigos para preservar a união", diz.
FANTASIA COM O PARCEIRO
Uma das maiores dificuldades para os casais que querem superar a crise é refazer o pacto que os uniu um dia e trazer o sexo de volta para a relação conjugal. Casados há uma década, o vendedor M.C., 35 anos, e a esposa não transam há um ano e três meses. "No início, era ela que não estava a fim", conta ele. "Tomei iniciativa e dei com a cara na parede. Cansei." Os problemas surgiram depois que a mulher começou a tomar remédios para emagrecer em uma tentativa de voltar à forma física de antes da gravidez. "Ela ficou descontrolada", diz o vendedor.
As brigas e acusações transformaram o desejo em raiva. Há um mês, disposta a investir no casa mento, a esposa de M.C. parou com os medicamentos. O vendedor está na expectativa de que eles voltem a ser um casal de verdade. É este momento de resgate que a pedagoga Márcia Secco vive com o marido. Eles já ficaram três meses sem relações sexuais e há três anos ela não sente prazer. "Estava sempre indisposta", diz. "Às vezes, cedia apenas para satisfazê-lo." Com ajuda de terapia, está redescobrindo o marido. "Aos poucos, a vontade está voltando", conta.
Retoma da do desejo
"Sou casada há 15 anos e, desde o fim da segunda gravidez, há três anos, não sinto prazer. Já ficamos três meses sem sexo. Cheguei a pedir que ele procurasse outra pessoa para ser feliz. Quando percebi que não tinha mais prazer nem mesmo com o toque nas regiões mais íntimas, procurei a terapia. Foi a melhor coisa que fiz. Há algumas semanas, viajamos sozinhos. Queremos ter um tempo para nós. Aos poucos, a vontade está voltando. Quando volta o sexo, lembramos como é bom"
Não faltam manuais recheados de obviedades que prometem uma revolução sexual em dez passos ou 20 lições. Neste mercado, o livro "Sexo no Cativeiro", da terapeuta de família Esther Perel, traz uma contribuição rara entre as obras do gênero. Ela propõe o resgate do universo lúdico, perdido entre os casais. Mas como recuperá-lo quando falta desejo? O sexo erótico pressupõe imaginação e é preciso comprometimento para investir nele.
Entre as sugestões dos especialistas está a inclusão do parceiro no universo das fantasias sexuais. No livro "O Sexo e a Psique", lançado na semana passada no Brasil, o pesquisador Brett Kahr, do Centro de Saúde Mental de Londres, revela que 21% dos ingleses incluem com frequência o cônjuge nas suas fantasias eróticas. "À medida que envelhecem, fantasiam com o parceiro com uma frequência menor", afirma Brett. Dos casais entre 18 e 29 anos, 14% incluem o companheiro na imaginação erótica. Ao chegar aos 51 anos, o índice é de apenas 6%. Não é difícil entender por que sem imaginação não há ação.
ENGRENAGEM DO OUTRO
Esther Perel questiona a febre pela medição em planilhas e gráficos - pessoas mais preocupadas com o tamanho do pênis, dos seios, dos quadris, a frequência do sexo, as posições mais incomuns do que em entender a complexa engrenagem do outro. Mas estar com a autoestima elevada e fazer-se atraente para o parceiro podem ser um combustível eficiente para esquentar os lençóis. "Os homens ficam obcecados com o orgasmo da mulher para atestar a sua virilidade", afirma Silvia Mazano, diretora do Instituto Brasileiro de Sexologia. "Não é o homem que dá o orgasmo. É a mulher que o tem. E, se não tiver, não significa que ela não sentiu prazer", diz.
Outro mito desconstruído pelo livro é a eficácia do diálogo aberto, um mantra para a maioria dos psicólogos. Esther defende que a linguagem do corpo é mais importante do que as palavras para o bom entendimento sexual. "O excesso de intimidade pode comprometer o desejo, que exige distância, dúvidas e surpresas", afirma. "Ninguém procura o que já está lá." O livro também questiona o conceito de democracia na cama. Para a terapeuta, o erótico estaria ligado ao jogo de poder e a alternância entre domínio e submissão, de difícil aceitação para quem prega a diplomacia no sexo.
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