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sábado, 11 de julho de 2009

Última suspeita contra Sarney: uma conta no exterior

Referência surge em material apreendido no Banco Santos

Presidente do Senado nega posse de dinheiro fora do país








Em meio aos milhares de arquivos digitais recolhidos pela Polícia Federal e pelo Banco Central na intervenção feita no Banco Santos há um documento chamado “JS-2”.



É um registro eletrônico. Tem sete linhas. Sob o título “Posição Exterior JS”, traz anotações sobre a movimentação de uma conta em dólares no estrangeiro.



Em 30 de outubro de 1999, informa-se na primeira linha, o “saldo” era de US$ 870.564 –o que equivalia, naquela época, a R$ 1,7 milhão.







“JS” é como Edemar Cid Ferreira, o ex-dono do Banco Santos se referia a José Sarney, seu amigo de três décadas.



Em notícia levada às páginas de Veja, o repórter Alexandre Oltramari traz detalhes sobre o elo que liga o ex-banco de Edemar, liquidado extrajudicialmente, a Sarney.



A sexta linha do documento eletrônico traz uma anotação feita em 10 de junho de 2001: “Valor Entregue em Veneza [...] – 10.000”.



Naquele dia, José Sarney encontrava-se em Veneza, na Itália. Na companhia de Edemar, visitara a célebre Bienal de Artes da cidade.



Ouvido, Sarney confirmou, por meio de sua assessoria, que estivera na Bienal de Veneza. Fora a convite de Edemar, que custeara passagens e hospedagem.



Sobre o suposto repasse de US$ 10 mil, Sarney mandou dizer: “Isso não me diz respeito”. Negou, de resto, que tenha mantido dinheiro fora do país.



As dúvidas quanto ao vínculo do nome-código “JS” com José Sarney foram dirimidas pela polícia e pelo BC por meio de outros documentos apreendidos.



Um desses documentos é uma agenda que o ex-banqueiro Edemar guardava no computador. Ali também há uma menção a “JS”.



Clicando-se sobre as iniciais, chega-se a uma página chamada “Contatos JS”. Traz os telefones de José Sarney em São Paulo, Brasília, Macapá e São Luís.



Anota também os números de secretárias, ajudantes de ordem e seguranças do senador.







Primeiro item da agenda, o endereço de São Paulo, na Alameda Franca, no bairro chique dos Jardins, liga o documento "Contatos JS" à planilha "Posição Exterior JS".



A quarta linha da planilha que traz a movimentação da conta atribuída a Sarney traz uma anotação feita em 21 de março de 2001. Diz o seguinte:



“Retirada em R$ 5.000 – Valor entregue na Al. Franca”, a rua em que está assentado o apartamento dos Sarney. A seguir, a conversão do valor em dólares: US$ 2.273.



Ouvido, Edemar ecoou Sarney. Disse que jamais geriu recursos de terceiros no exterior. Sobre o arquivo pescado em seu computador, ele disse:



"Desconheço a existência de um arquivo JS-2 em meu computador. Não sei quem criou, quando e com que propósito".



A máquina varejada pela PF e pelo BC traz a informação que Edemar diz desconhecer. O arquivo JS-2 foi criado no dia 3 de julho de 2001, às 10h05.



Abriu-o uma ex-funcionária de Edemar, identificada no registro do computador como Vera. Vem a ser Vera Lúcia Rodrigues da Silva, secretária de Edemar.



Não é a primeira vez que a proximidade com Edemar rende dissabores a Sarney. O senador já tivera de se explicar quando da intervenção do BC no Banco Santos.



O BC interveio na casa bancária em 12 de novembro de 2004. Retiveram-se todos os depósitos. Sarney, porém, livrara-se do bloqueio.



Um dia antes, os R$ 2 milhões que o morubixaba do PMDB mantinha em aplicações no Banco Santos haviam sido transferidos para a conta dele no Banco do Brasil.



À época, Sarney negara que houvesse recebido “informação privilegiada”. Dissera que solicitara a transferência por conta do noticiário negativo que rondava o banco.



Em 22 de junho de 2005, numa entrevista a Veja, Edemar dissera coisa diversa: assumira como dele, ão de Sarney, a ordem para a transferência providencial.



"Quando cheguei na quinta-feira de manhã ao banco [véspera da intervenção], a primeira coisa que falei foi:...”



"...Peça para transferir o dinheiro que o Sarney tem para a conta dele no Banco do Brasil".



Na ocasião, as palavras de Edemar resultaram na abertura de uma investigação do Ministério Público, para saber se o ex-banqueiro privilegiara o amigo Sarney.



Os vínculos monetários de Sarney com Edemar conspurcam o esforço que o presidente do Senado empreende para livrar-se das suspeitas que o assediam.



O ex-banqueiro não é companhia que recomende ninguém. Edemar arrosta uma condenação de primeira instância: 21 anos de cana.



Foi hóspede, por duas vezes, do sistema carcerário paulista. Todos os seus bens encontram-se bloqueados por ordem da Justiça.



Resta saber o que farão a PF, o BC e o Judiciário com os dados contidos na planilha “JS-2”.



Convertidos numa investigação formal, podem render a Sarney mais do que um simples constrangimento adicional.

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