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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Zélia Duncan retira assinatura do Música Para Baixar

Zélia Duncan retirou sua assinatura do manifesto Música Para Baixar porque entendeu errado. Ela pensou que era uma busca para se resolver o problema do download de maneira a satisfazer fãs e artistas e não que fosse a defesa do download gratuito à revelia dos artistas.


Zélia está nos Estados Unidos e de lá enviou por e-mail sua posição:
“Eu nunca baixei uma música sequer. Já aceitei uma ou outra de amigos que me mandaram coisas raras, que não se encontram por aí, o que acho tão válido quanto aqueles cassetes que fazíamos antigamente, que copiávamos na casa de um amigo, ou dávamos de presente de aniversário com repertórios sortidos.
Eu realmente entendi de outra forma esse “manifesto” e lamento ver meu nome usado nas trincheiras dessa forma, pois eu defendo que a música não aparece na Internet por um passe de mágica. Alguém criou, alguém gravou, é a nossa profissão, não é um presente dos deuses.


O que sempre defendi foi que tenhamos uma opção para isso tudo, que possamos comprar com facilidade as canções que quisermos ter. Assim como o iTunes proporciona para quem tem cartão internacional, o que não é o meu caso, nem o da maioria esmagadora de brasileiros. Adoro a Internet, me fascina a possibilidade de democratizar, de divulgar, de ser independente, mas não apoio que as pessoas baixem indiscriminadamente as coisas, como se elas não tivessem dono, como se não fosse a nossa vida, nosso suor e nosso trabalho. Defendo as saídas que sejam benéficas para ambos os lados. Viva a Música Brasileira!”

Zélia explicou que não se trata de nenhum tipo de rompimento com Leoni – “eu o tenho em altíssima conta! É um guerreiro incansável e um artista que admiro muito” - nem com os demais signatários. Leoni recebeu com elogios a posição de Zélia:

- Zélia tem uma posição muito coerente. Não esperava menos da minha parceira e amiga. Admiro-a como artista e como pessoa pública, sempre se posicionando, mesmo quando o assunto é espinhoso. Sou a favor da pluralidade de idéias e acho-a indispensável para criarmos soluções boas para todo mundo. No fim das contas o que interessa é encontrarmos caminhos que sejam bons para a música brasileira,” disse Leoni por e-mail.

O assunto foi tema de matéria do Segundo Caderno de “O Globo” neste domingo (leia aqui) assinada por Leonardo Lichote que foi colocada no site e gerou algumas respostas coerentes e outras desbaratadas.
Não é verdade que o artista nada ganha pelos discos vendidos nas gravadoras. Ele ganha um percentual por intérprete e um percentual por autor quando é o caso. Também recebe por execução em rádio e pelas músicas que toca nos shows.







O próprio Leoni me disse – “Não quero acabar com o direito autoral - boa parte da minha renda mensal vem daí, mas flexibilizá-lo para adaptá-lo ao novo mundo.”

O artista recebe, não é a parte do leão, que fica entre gravadora e loja. Acho de uma total arrogância dizer que o artista deve ganhar dinheiro mesmo é com show. Com que direito alguém se apropria do trabalho alheio e manda o espoliado se virar de outro jeito. Quem defende essa posição gostaria de ver seu trabalho expropriado desse jeito e alguém mandar que fosse ganhar dinheiro vendendo fruta na feira? Duvido. Se doesse no bolso de quem faz o download gratuito queria ver ele manter a mesma posição.

Se o artistas quer ceder seu trabalho de graça em nome de uma nova realidade de mercado, que o faça. Para se projetar é um mecanismo válido, para se manter sem contrato de uma gravadora é válido. É muito citado o caso dos Arctic Monkeys que se projetaram a partir da internet. Mas onde eles estão hoje? Dentro de uma gravadora. Os que têm se dado bem com esse esquema de venda direta são nomes que enriqueceram ou se projetaram através do velho esquema como Radiohead e Nine Inch Nails.

Para ficar bem clara a minha posição: sou contra o download ilegal e a favor da busca de novos modelos de comercialização de músicas. Sou contra os atravessadores e acredito que no futuro o artista se relacionará diretamente com o fã numa relação benéfica para s dois lados. No blog Música Líquida, de Leoni e Marcelo Pereira, há muito material a respeito e destaco a conferência de Michael Masnock no Midem sobre a experiência bem sucedida de Trent Reznor/Nine Inch Nails. Finalmente, não sou a favor de maneira alguma da penalização dos fãs que baixam músicas.

Para encerrar uma declaração de Leoni sobre a questão:

Esse é um assunto que causa muita dúvida e muito debate. Se tentarmos compreender esse novo mundo usando os conceitos antigos vamos ficar frustrados e saudosistas. Eu não acho que a realidade corresponda ao meu ideal. Num mundo perfeito as músicas seriam pagas por download ou streaming. E bem pagas. Acontece que ele não é assim e nenhum sistema de controle se mostrou viável. Todos os processos movidos pela RIAA contra usuários de música resultaram em fortunas para os advogados e nenhum centavo para artistas ou gravadoras. Eu concordo com o Gerd Leonhard sobre esse universo de Música 2.0, temos que desistir do controle e inventar alguma forma de compensação. Para mim o modelo que deve resolver esse problema é o do Spotify: acesso a todo o universo musical on-demand em troca de um pagamento pelo uso do serviço. Esse dinheiro é dividido entre os artistas em função do número de execuções que tiverem.
Eu venho escrevendo regularmente sobre o assunto no meu blog Música Líquida. Sugiro a leitura de alguns textos que sintetizam esse pensamento. Não quero acabar com o direito autoral - boa parte da minha renda mensal vem daí - mas flexibilizá-lo para adaptá-lo ao novo mundo. Alguns casos recorrentes vêem mostrando que, na internet, quanto mais se dá, mais se vende.

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