Coluna Contraponto - Clique no LINK ABAIXO

sábado, 4 de julho de 2009

Violência entre adolescentes alagoanos:

A ausência é dos pais ou do Estado?
Especialistas relacionam as causas deste problema


por Emanuelle Oliveira


Conhecida como um dos fatores do analfabetismo emocional, a violência entre adolescentes e crianças tem preocupado pais e educadores. Comportamentos impulsivos, dificuldade em lidar com frustrações, desobediência em casa e na escola, mentiras e envolvimento em brigas muitas vezes são associados à relação familiar construída ainda na infância.

A falta de limites, pais ausentes e famílias desestruturadas econômica e emocionalmente estão diretamente ligados a esses comportamentos, geralmente entre os 10 e 18 anos. Na Europa, a violência juvenil já é considerada uma doença, já que notícias sobre assassinatos de jovens por jovens se tornaram normais. Especialistas acreditam que o fato do respeito ter se desligado dos conceitos da sociedade trouxe como resposta a violência.

Em Alagoas, programas sociais como o Projovem visam, através da educação, minimizar os índices de violência, que atingem jovens de 17 a 25 anos, em risco de vulnerabilidade. A implementação do ensino integral aliado à atividades de esporte, lazer, cultura e arte remediariam o problema, que vitima potencialmente o gênero masculino.

O psicólogo Charles Lang explicou que por estudarem em escolas particulares, adolescentes de classe média têm uma realidade diferente daqueles que passam por escolas públicas, o que também deve ser levado em consideração em relação aos jovens alagoanos e os de Estados do Sul ou no Sudeste.

Ele destacou que a adolescência é mais uma construção social e histórica do que um momento individual. O tédio, a apatia e a indiferença constituiriam características marcantes de crianças que tiveram tudo, sendo importante que elas aprendessem a desejar, sabendo que a frustração é um dos componentes desta aprendizagem.

"A educação e os traumas são constituintes da vida humana, e não é possível fazer essa conexão com os índices de criminalidade. Ninguém tem a desculpa de que é traumatizado e por isso é criminoso. Se fosse assim, a humanidade não precisaria de leis nem de polícia ou prisões, bastariam psiquiatras e psicólogos. Infelizmente, muitos acham que a delinquência vitima boas pessoas que não tiveram oportunidades ou sofreram na infância", revelou.

Segundo ele é preciso aprender a lidar com a violência intrínseca do ser humano e o trabalho cultural e a canalização, por meio de jogos e esportes são indispensáveis. Logo, os índices negativos estão relacionados ao fracasso das instituições, do sistema educativo e da distribuição da renda e do bem comum.

Em relação aos limites que devem ser dados pelos pais, o psicólogo ressaltou que eles são responsáveis pela educação das crianças. Já no caso dos adolescentes, o grupo com o qual eles se identificam condiciona isso.

"Se não tiver regras definidos na infância, o adolescente irá procurar como referência aqueles com quem se identifica, cujos limites sejam semelhantes aos que ele recebeu ou não dos pais", revelou.

Para a pedagoga Elizabete Patriota, em Alagoas a violência entre os jovens ocorre devido a um somatório de fatores, como a ausência do governo na garantia da efetivação das políticas públicas, o despreparo das escolas para receber a demanda, a ausência de atividades de recreação e a falta de perspectivas no ensino profissionalizante.

"A família de classe baixa já está desamparada e a criança cresce sem condições adequadas, visto que muitas nem têm registro de nascimento. Os professores são mal pagos e nas escolas não existe uma equipe multidisciplinar para orientar os estudantes. Aqui só existe um centro de ensino profissionalizante gratuito e só quem pode pagar cursinho consegue entrar. Maceió ainda é a capital dos meninos de rua", afirmou.

De acordo com a pedagoga, a violência está presente em todas as classes sociais, principalmente pelo aumento no consumo de drogas lícitas e ilícitas. Para ela, nesse contexto os jovens passaram a ser mais vítimas do que autores de atos violentos e se o governo tiver responsabilidade na aplicação dos recursos, esse quadro poderá mudar.

"O Estado nunca recebeu tanto dinheiro, mas os pobres ainda não têm acesso aos bens culturais, enquanto que os jovens ricos são tratados de forma diferente. Isso pode ser observado quando um menor de classe média ou alta comete um delito. Ele se apresenta com um advogado. Já o que não tem dinheiro é imediatamente tratado como marginal", enfatizou.

Nenhum comentário: