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terça-feira, 7 de julho de 2009

Mais do mesmo

Claudio Abramo



Logo após Fernando Collor ter sido eleito presidente, em 1989, o repórter Lucas Mendes, então correspondente da Rede Globo em Nova York, definiu-o como “jagunço yuppie”. Foi demitido no ato pela emissora, que no período eleitoral se alinhara com Collor contra Lula (vide a famosa edição do debate Collor-Lula, até hoje discutida, desmentida, reafirmada).

Collor renunciou em 1992, quando se tornou claro que seria cassado pelo Congresso por corrupção. Seu operador financeiro, Paulo César (PC) Farias, seria assassinado a tiros anos depois junto com a namorada, crime que a valorosa polícia de Alagoas nunca esclareceu e que, mesmo por isso, parece ter sido motivado por queima de arquivo ou acerto de contas.

Collor caiu por efeito de uma combinação de fatores. A mobilização de estudantes, partidos de esquerda, entidades de classe e de parte do empresariado de São Paulo produziu manifestações de rua nas principais cidades do país, o que transmitiu aos políticos a informação de que o jagunço yuppie não contava mais com o apoio da classe média. (Este que escreve teve papel subsidiário na organização anti-Collor em São Paulo. Ainda tenho, dependurado em minha sala, o crachá de organizador do Ato Público pró-impeachment realizado na Praça da Sé.)

Assumiu a Presidência o vice, Itamar Franco, cujo governo não foi acusado de nada (e cujas iniciativas de combate à corrupção, embora não cantadas, foram relevantes; alguém um dia terá de fazer esse inventário).

Seguiu-se o primeiro mandato de FHC, durante o qual o Congresso alterou as regras do jogo, passando a permitir a reeleição dos chefes de Executivo, até então proibidas. Houve fortes indícios de que a votação no Congresso foi lubrificada por propinagem (R$ 200 mil por voto favorável).

O governo FHC empreendeu a privatização de diversas empresas estatais, entre as quais a Embratel e a Vale do Rio Doce. Gravações telefônicas deram conta de que o então presidente do BNDES, José Roberto Mendonça de Barros, negociou a venda da Embratel “no limite da irresponsabilidade”.

Até hoje tais privatizações constituem a principal arma do arsenal dos anti-tucanos, os quais as associam a corrupção, embora não haja indícios reais de que o processo tenha envolvido suborno.

Após FHC veio Lula, pela primeira vez na história do Brasil um presidente eleito a bordo de um projeto popular, o do Partido dos Trabalhadores.

Cedo, porém, o governo Lula e o PT viram-se implicados no escândalo do Mensalão, esquema de distribuição de propinas a parlamentares depois disfarçado como mecanismo de ressarcimento de dívidas eleitorais em Caixa 2 (isso foi patentemente uma invencionice para livrar a cara da turma, mas não é disso que quero tratar hoje).

O esquema empregava a fábrica de lavagem de dinheiro do publicitário Marcos Valério, o qual, ao que parece, havia nascido anos antes para servir a tucanos mineiros.

Durante o governo Lula surgiram diversos outros escândalos que seus opositores por vezes debitam em sua conta mas que, na verdade, vieram à luz devido ao fortalecimento dos mecanismos de controle empreendido por seu governo: Sanguessugas, Vampiros e dezenas de outros esquemas foram descobertos pela ação da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal.

Como é notório, surfando numa imensa popularidade, Lula não precisa politicamente de partido nenhum e se descolou do PT, o qual hoje não é mais do que um dos integrantes da “base aliada”, a qual tem como principal componente o PMDB. Diversos outros partidos mais ou menos de aluguel compõem essa “base”.

Chegamos enfim onde queria chegar. Quem eram os apoiadores de Collor e de FHC? Eram José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho e os hoje oposicionistas integrantes do DEM, antigo PFL.

Exceto por estes últimos (e, naturalmente, os tucanos), são os mesmos apoiadores do governo Lula. O qual conta também com o apoio de Collor. Trata-se de representantes de oligarquias regionais que, não fosse por sua longevidade materialmente evidenciada, seriam em tese descartáveis por anacronismo fulminante.

Quem serão os apoiadores do governo que será eleito em 2010, de Dilma Rousseff ou José Serra? Serão os mesmos.

No Brasil, a prática política parece indicar que presidentes da República não conseguem governar sem entregar parte da administração a esses mestres da exploração despudorada do Estado.

São esses agentes do atraso, mais do que presidentes e partidos políticos, que de fato dominam o panorama político brasileiro.

Nada parece resistir à erosão corruptora dessa gente.

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