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sábado, 13 de dezembro de 2008

A Cultura do Faustão(WALMAR BUARQUE)

Mal acaba o Maceió Fest e a prefeitura já organiza shows de axés e desconhecidos0000 para continuar a comemoração antecipada do carnaval. Há alguns anos, a cidade estaria em pleno clima de Squenta Verão, uma série de shows que reunia diversos artistas e estilos musicais.
A disposição da prefeitura de organizar eventos é válida, mas há algo errado na forma com que os organiza. A prefeitura não está estimulando manifestações culturais e sim incentivando a mediocridade, realizando um culto à mesmice. Os governantes parecem ter esquecido que o principal elemento para a formação de uma cultura é a diversidade, em visão dos últimos eventos, a prefeitura está reafirmando o gosto popular, ao invés de injetar uma dose de diversidade cultural na cidade, de dar um leque de opções aos alagoanos e turistas.
Esse quadro não se altera por diversos motivos. Entre os quais está a falta de interesse privado. A questão é que não há empresário que tenha condições de competir com uma produção e uma mídia financiadas pela prefeitura.
A própria mídia também tem a sua parceria de culpa na restrição cultural da cidade, exaltando o Maceió Fest e todos os eventos que nos conduziram a uma vida cultural que se limita a shows de Axé Music. A página de serviço e cultura da Gazeta de Alagoas consiste apenas em uma coluna social, no horóscopo e nos resumos das novelas de TV. Os jornais demonstram um pouco caso absurdo no que diz respeito à divulgação, publicando anúncios apenas véspera e não demonstrando interesse em publicar artigos sobre o assunto.
Um show de Daniela Mercury, Netinho ou Chiclete com Banana em Maceió já virou rotina, mas são lucro certo para quem os produz. Quando foi a último a ultima vez Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil vieram a Maceió? Tais shows não são organizados por falta de oportunidade, e não por falta de interesse dos artistas. Maceió é hoje um ponto de artista que já passaram e de produtos de qualidade discutível, nem tanto por seu conteúdo, mas por ser o único tipo de música a que se tem acesso.
A falta de incentivo à cultura já está enraizada em Maceió: o único teatro da cidade está fechado, o único teatro da cidade está fechado, não há mostras de cinema que exibam filmes não comerciais, exposições de arte são uma raridade e eventos ligados à literatura, inexistentes. A maior expressão cultural da cidade se dá através da música, e o seu aspecto cultural está agora em segundo plano, leva-se em consideração apenas o aspecto financeiro de um show.
A receptividade ao Squenta Verão mostra que Maceió pode expandir a cultura do povo. O evento, que foi realizado de 1989 a 1992, está se tornando cada vez mais bem equipado, ampliando seu público e atraindo cada vez mais artistas. A Spac Brasil, produtora que promovia o Squenta Verão (e suas continuações: o Brahma Show e o Maceió nas Férias é uma Festa,em junho), ofereceu, por algum tempo, o que a prefeitura não oferece até hoje: diversidade. No Squenta Verão havia shows de Axé Music, mas foi graças a esses eventos que passaram pelos palcos de Maceió artistas como Cazuza, Geraldo Azevedo, Marina Lima e Djavan, entre outros. É tudo uma questão de dosagem do produto; precisando adicionar qualidade ao gosto popular.
No verão passado surgiu outra iniciativa cultural, em menor escala, porém de indiscutível qualidade: o projeto Música na Praia, produzido pelo Bar Brasil. Shows de música instrumental, jazz e blues foram realizados no próprio bar, na beira da praia.
A questão aqui é que iniciativas como o Squenta Verão e o projeto Música de Praia perdem espaço e motivação devido à falta de percepção dos governantes, que não vem que esses eventos são positivos até para a imagem da cidade. Um bom show, por si só, é uma excelente propaganda, e um turista que assiste a um show impecavelmente produzido, ou um bom show na beira da praia, leva consigo uma imagem inesquecível de Maceió. Hoje um turista que chega aqui vê apenas um festival de trios-elétricos e shows de música baiana. O Squenta Verão acabou e o projeto Música na Praia reduziu seus shows de oito, no ano passado, para dois, a serem realizados ainda em janeiro.
Para sacudir a cidade dessa inércia cultural, o caminho mais fácil seria um entrosamento entre as iniciativas municipal e privada. Os empresários locais já realizaram muito levando-se em consideração as condições existentes. Não há sequer uma casa de shows na cidade. Recentemente, o projeto Circo Folia cercou uma área no Jaraguá para a sua produção. Com o dinheiro gasto no cercamento poderia se construir uma casa de shows com capacidade para duas mil pessoas, o que seria, antes de tudo, um investimento para futuras realizações.
Maceió está imersa na cultura do Faustão. Os artistas que lá se apresentam são os que despertam interesses aqui. É hora de abrirmos nossos horizontes, de dar valor ao que vem de todo o Brasil,e não só da Bahia - e isso não se aplica a Caetano, Gil, Betânia, que são artistas universais, e sim a Netinho, Daniela Mercury e todos os pseudo bandas, e aos enlatados que surgiram nos últimos anos. Além da Axé Music, são apenas nomes passageiros, sem expressão, que por aqui têm passado. A cidade tem infinitas possibilidades, desde que os governantes tomem conhecimento delas. É preciso mudar, não podemos ter a nossa cultura determinada por um programa dominical. O verão está aí, ainda há tempo de se resgatar o que quase foi nosso: uma cultura musical diversificada e de alta qualidade.

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