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sábado, 13 de dezembro de 2008

Falando a Verdade ( WALMAR BUARQUE )

*Walmar Buarque
Numa situação semelhante onde o tirano cruel, vaidoso chamado Dionísio, que vivia cercado por uma corte de bajuladores, que não se atreviam a dizer-lhe senão elogios embora o criticassem duramente pelas costas.
Dionísio tinha como vaidade considerar-se poeta e não perdia a oportunidade de fazer versos e submete-los aos cortesãos, que o elogiavam e aplaudiam, como também não deixavam de expressar sua admiração por seu gênio. E assim Dionísio ficava muito satisfeito.
Contudo, não satisfaziam a Dionísio apenas considerações dos bajuladores e ele insistia em que o mais culto dos homens de Siracusa, o filósofo Filoxemo, ouvisse seus versos e também louvasse seu talento como poeta. E assim foi feito. Filoxemo se apresentou a Dionísio, que mal podia esperar as palavras de admiração e louvor à sua arte de fazer poesia.
Filoxemo foi direto e objetivo, afirmando que não era poesia e que Dionísio não poderia considerar-se um poeta. Dionísio no alto do seu poder e na ira de sua tirania, decretou a prisão de Filoxemo, que no meio dos piores bandidos ficou por algum tempo preso.
Quando do conhecimento, por parte dos amigos de Filoxemo, da prisão do filósofo e amigo, fizeram pressão através de carta e pedidos para que Dionísio o soltasse.
Não se sabe a razão mas Dionísio tomou essa atitude. Libertou-o e o convidou, e a seus amigos, para um banquete. Essa seria a condição para a liberdade de Filoxemo, que foi junto com seus amigos.
Não era exatamente o desejo de Dionísio comemorar a liberdade de Filoxemo mas, sim, de submete-lo mais uma vez a declarações de seus poemas que ele e seus cortesãos achavam excepcionalmente bons. Era assim que os aduladores manifestavam a mesma opinião, a julgar por seus gestos e elogios; mas Filoxemo continuava em silêncio, sem que a expressão do seu rosto traísse o seu veredicto.
Dionísio, impaciente, vendo que Filoxemo não se manifestava, disse: “Filoxemo, qual a sua opinião sobre este meu novo poema?”
Filoxemo dirigiu-se aos guardas do palácio e disse, em tom de repugnância:
-“Levem-me de volta ao calabouço!”
É sempre assim, os poderosos se cercam de bajuladores e esquecem de ouvir o clamor e as informações que vêm das ruas, daqueles que estão no dia a dia lutando, travando uma batalha silenciosa e desgastante de defender as crianças, adolescentes e jovens adultos que são abandonados toda as vezes que procuram apoio no governo. Por sorte, encontram em uma entidade, uma organização, um coração humano que os ajudem a sobreviver nessa loucura de vida, determinada para muitos no mundo da exclusão total de direitos e oportunidades.
Os números são terríveis: 84% da população são analfabeto ou semi-analfabetos; 52% vivem na miséria absoluta; 1,5% dominam a economia do Estado. Temos uma das maiorias concentrações da renda do País. Aqui os poderosos não são presos; aqui a injustiça social se mostra no número de mortos por mil nascidos e no abandono dos que sobrevivem. A violência doméstica e institucional é gritante visualmente nas ruas, onde estão jogados à própria sorte, e nos casos notificados nos jornais.
A violência é verdadeira, quer ele acredite ou não e ela será transparente quando deixar o poder e como nós, se deparar com ela no dia a dia nos sinais, nas grotas, em baixo das pontes, das marquise nas sarjetas e,futuramente, em baixo do viaduto Ib Gatto.
Acredite que se pode melhorar, é agora que tem a chance de fazer algo para, pelos menos, diminuir esses números, pois nada foi feito pelos meninos e meninas de rua tão abandonados que, além do abandono, hoje estão sendo dizimados num verdadeiro massacre social e político. E se tentar calar as consciências e o clamor público com iniciativas inócuas acreditando-se cortar o mal pela raiz quando se corta, em praça pública, os cabelos desses meninos ou se encena um pretenso encaminhamento a instituições governamentais que nem mesmo existem ou àquelas não governamentais tão ou mais “desassistidas” que os próprios meninos, incapazes de dar a estes um mínimo de atendimento já que são privadas de qualquer ajuda por parte das autoridades que deveriam assisti-las.
Voltando à narrativa de Filoxemo: os cortesãos ficaram horrorizados diante de tão óbvia declaração. Apavorados aguardaram a reação de Dionísio mas o tirano, embora um poço de vaidade, tinha um certo respeito pela coragem moral. Deixando os aduladores trêmulos de medo voltou-se, com um sorriso, para o imperturbável Filoxemo e deu-lhe permissão para ir em paz.

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