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sábado, 13 de dezembro de 2008

Elocubração ( WALMAR BUARQUE )

Estava eu a meditar sobre governo e religião e cheguei à conclusão de que não há duas espécies de governo nem de religião.
O governo é de direito divino ou não é; assim como a religião, é do céu ou não é nada. Governo democrático e religião natural são duas contradições, a menos que se prefira ver duas mistificações.
O povo não tem mais voz consultiva no Estado que na Igreja, o poder do povo é o de obedecer e acreditar.
Aí cresce a ânsia dos mais esclarecidos e letrados na efetivação do terceiro setor, no monitoramento e fiscalização das ações implantadas pelos que comandam até agora as ações.
Como aceitar o escrutínio como o mais seguro método de assegurar-nos um governo num país de 30 milhões de analfabetos, ou num estado que tem 84% da sua população na mesma situação? Ou seria alguma coisa de mais racional, mais autentico, de mais moral do que a fé ou a força? Que poderia oferecer condições de termos representantes probos no Congresso, mais independentes, mais interessados na ordem, na liberdade, no bem-estar dos trabalhadores e no progresso da Nação? Por que acreditar tanto poder nesses que hoje nos representam, na sua maioria, que usam esse privilégio para fazer desse poder instrumento de exploração nessa autentica ditadura do analfabetismo.
Nós entramos nesse atoleiro.
Que necessidade tenho de mandatários, como de representantes desse tipo? E já que eu preciso demonstrar minha vontade, não poderia eu exprimi-la sem a ajuda de ninguém? Isso me custará mais e, além disso, não estou mais certo de mim do que meu advogado?
Que distancia separa estes dois regimes: o governo e a religião. Pode-se julgar isso pela diferença de estilos. Na promulgação do Decálogo a voz do anjo comanda o povo, prostrado ao pé do Sinai:
“Adorarás o Eterno, e nada senão o Eterno; não julgarás senão por Ele.
Celebrarás suas festas e lhe pagarás do dízimo.
Honrarás pai e mãe.
Não matarás e etc...
Porque o Eterno a ordena e é o Eterno que fez o que tu és.
Somente o Eterno é soberano, sábio, digno; o Eterno pode torná-lo feliz ou infeliz."
Todas as outras legislações adotam essa tendência, todas falando para o homem empregam a formula soberana e, assim, se divulga o decálogo moderno:
“Não te reunirás”.
“Não imprimirás”.
“Não lerás”.
“Respeitarás teus representantes e teus funcionários que o acaso do escrutínio ou o arbítrio do Estado há de te dar”
“Obedecerás fielmente o orçamento”.
“E amarás o governo, teu Senhor e teu Deus, com tua devoção, com tua alma e inteligência, porque o governo sabe melhor que tu o que tu és, o que vales e o que desobedecem os seus desígnios,como de recompensar até quarta geração aqueles que lhe são agradáveis”.
Não podemos nos esquecer que ser governador é ser guardado à vista inspecionado, espionado, dirigido, instruído,controlado, avaliado, censurado e comandado por outros que não têm a ciência nem a virtude.
Ser governador é ser,em cada operação, transação ou em cada movimento, notado, registrado, patenteado, arrolado, tarifado, licenciado, autorizado, admoestado, corrigido e, a pretexto de utilidade pública e em nome do interesse geral, ser adestrado, espoliado, explorado, ridicularizado, vilipendiado, condenado, vendido, traído, espancado. Eis o governo, eis a justiça, eis sua moral!
Se você as observa será justo e bom; se as viola, será injusto e mau e se tornará suspeito e nada o protegerá. Ao menos insulto, o primeiro que chegar pode lhe bater, sem incorrer noutra acusação.
Se jurar o pacto, ao contrário, fará parte da sociedade dos homens livres e todos se comprometerão com você na felicidade, na amizade, segurança, favor e troca.
Eis o Pacto Social.
Ó personalidade humana!

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