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sábado, 13 de dezembro de 2008

Sem olhos para ver ( WALMAR BUARQUE)

As grandes cidades brasileiras têm sido palco de constantes cenas de violências das quais a maioria da população já participou como atores-vítimas e/ou atores-espectadores. Essa realidade, de acordo com previsões antigas, torna-se agora um pesadelo; nessa semana a força da pobreza mostrou seu lado mais perverso e preocupante, o de fazer justiça com as próprias mãos, em duas ações distintas. Os "morros"-seus moradores-desceram e botaram pra quebrar no centro financeiro e turístico do Rio de janeiro.
Essa violência vem do crescente e discriminador processo de concentração de renda-nas mãos de uma minoria-e esse fenômeno tem transformado a vida das grandes cidades em um crescente desafio, atingindo-as de forma totalizadora.
Na visão dos ricos os indivíduos postos sob suspeita têm uma cara, um tipo social: ser pobre, negro, favelado, desempregado, mal cuidado na aparência e na saúde.essa tipificação é suficiente para descrever o tipo "criminoso", "delinqüente" e perigoso e fazer com que muitos transeuntes mudem seu trajeto para evitar o risco de ser protagonista de uma dessas cenas de violência. O resultado disso tem sido a absorção de uma experiência e uma postura de defesa diante dela; o direcionamento do olhar desconfiado decorre das inúmeras vivências de situações onde é construído no imaginário social esse tipo padrão.
Agora, neste momento, começa uma reviravolta no conceito de violência, e quem traz essa nova versão são os despossuídos, explorados, famintos e favelados que vêem nos ricos-aí está, também, a classe média para azar nosso-os canalizadores de uma situação de penúria e sacrifício dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-trabalho, dos sem-comida, dos sem-educação, dos sem-esperança, dos sem-nada. Nesse bloco só não entram aqueles sem-vergonha, que concentram de tudo em abundância e desperdício, que propiciam o quadro de concentração de renda e oportunidades que, a partir de agora, será combatido com ações de revanchismo e agressões que trarão dias de pesadelo para todos nós. Esses "responsáveis" são os que exercem a ostentação de casais, carros, festas, nas aparições públicas e nos maus tratos trabalhistas e profissionais, esses emergentes e os antigos donatários das capitanias hereditárias que até hoje existem, ignorando a pressão que exercem no processo de violência para coma nossa sociedade.
O Alagoas e o Brasil tornaram-se numa imensa Bastilha, onde mais de cinqüenta milhões de cidadãos estão prisioneiros dessa estúpida concentração de renda. O que será desse país se o povo das favelas correr, como vem acontecendo, em busca de justiça, educação e comida? Quando essa busca desesperada levar ao enfrentamento, à desobediência civil, à pilhagem, aos saques e incêndios, o que segurará a turba enfurecida se isso vier a acontecer? A Polícia Militar? O Exército? Sucateados e também com fome de comida, justiça e respeito? Será que as elites e o governo não perceberam que as grandes revoluções da história começaram, no seio do povo? Que a miséria, a fome e o desemprego aliados à corrupção desenfreada, à impunidade aos desmandos e autoritarismos das pequenas autoridades, só podem levar à violência? Esse país caminha célere para a explosão social e o caos. Só não enxerga quem não tem olhos de ver!

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