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sábado, 13 de dezembro de 2008

O MST É O QUE BASTA ( WALMAR BUARQUE )

As pessoas são persuadidas mais pela profundidade da convicção do que pela intensidade da sua lógica. Mais pelo seu próprio entusiasmo do que por qualquer prova que possa oferecer. Vou descrever o que penso da persuasão, - é converter as pessoas não à nossa maneira de pensar, mas à nossa maneira de sentir e crer.
É essa minha convicção, com relação ao MST. Nesses últimos anos tenho mantido um relacionamento superficial com o MST, mas que me mostrou-o que disse Will Rogers: “conheça o que faz, ame o que faz” e foi mais além ‘acredite no que faz”.
Isso me faz lembrar a história de uma pessoa que anunciou seu aniversário a um amigo e disse: Jorge, amanhã a noite vou dar uma festinha informal do meu aniversário e queria que você fosse, venha de qualquer jeito. Venha direto na porta e toque a campanhia com o cotovelo e já entrando.
O amigo perguntou:
- Tudo bem, mas porque de cotovelo?
- Jorge, talvez não tenha entendido. É meu aniversário e você não vem de mãos vazias né?
Quando procurei o movimento para abrigar três famílias que procuravam abrigo no Catarse, não tive dúvida de convencê-los, persuadi-los e com alguma convicção convenci a todos que seria a melhor opção.
Os adultos tinham experiências com trabalho na lavoura, as crianças precisavam de assistência médica e de educação, pensei eu: onde provê-los de alguma ajuda, senão no MST?
Outra experiência numa outra oportunidade não com mais três famílias, mas apenas uma que nas mesmas condições me procurou no Catarse pedindo a mesma ajuda. Dessa vez sem refletir ou até mesmo questionar as razões me pus à disposição e com ajuda dos amigos e voluntários conseguimos uma casa com toda estrutura de viver ou sobreviver por algum tempo até que tivessem condições de sobreviver com seu trabalho.
O tempo foi passando e nada de aparecer o esperado emprego. Falta de experiência, escolaridade, recursos para sua locomoção para buscar sua chance, má vontade, discriminação, falta de referência, de vez por outra um trabalho escravo, insalubre, mal remunerado e finalmente a desestruturação moral e ética do homem e da família, na rua alcoolizado manipulando as crianças e fazendo-as pedir esmolas, explorando sexualmente sua mulher nos prostíbulos. Finalmente o desespero tomou conta de todos e cada um foi para seu lado abandonando a casa que já não tinha mais nada do que tinha sido doado como fogão, geladeira, tv, camas, colchões, enfim, tudo foi vendido ou roubado. O marido foi assassinado, a mãe alcoólatra e prostituída não sabia mais dos filhos, e eles hoje encontram-se separados uns dos outros, não se sabe se alguém morreu, sabe-se que dois estão desaparecidos.
De quem é a culpa do acontecido com esta família? Nossa? Em acreditar que poderíamos ajudá-los doando cestas básicas casa e equipamentos?
Da sociedade urbana, discriminadora, exploradora, falsa e abusada no descaso e omissa na sua missão de unida lutar por direitos de todos e não só pensar no seu?
O do estado, paralisado, patético, chulo, fomentador da miséria e analfabetismo de toda uma parcela da população?
Vamos pagar todos nós por tudo que estamos fazendo por essas famílias e o preço será caro demais para todos nós.
Num outro dia, há poucos dias atrás, sou visitado por dois daqueles homens que há tempos atrás tinha eu os encaminhado ao Movimentos dos Sem Terra, o MST. No primeiro momento levei um susto com o comportamento altivo e alta-estima daqueles que há tempo atrás entraram nessa mesma sala cabisbaixo e pedindo ajuda.
Com sorriso no rosto os dois ao mesmo tempo disseram: - Queremos lhe agradecer.
-Calma disse a eles, o que está havendo?
Fale um de cada vez.
O Cícero falou primeiro – Queremos lhe agradecer de nos ter levado para o MST. Você foi nosso anjo da guarda, sem sua ajuda nós estaríamos mal, muito mal e agora está tudo bem, estamos ótimos.
Já ouvi pessoas dizerem: você acredita na clarividência, telepatia ou previsão psíquica?
É uma coisa estranha, mas eu sabia que aquelas pessoas que aceitaram minhas idéias, que se deixaram persuadir por mim teriam recebido uma transmissão de pensamento?
Volto a repetir, a vida é um espelho e devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos, crenças e entusiasmo. Eu sabia porque conheço os princípios do MST, mas não me custou nada perguntar-lhes qual o motivo de tanta alegria e gratidão por mim!
O relato foi longo e demorado, mas posso resumi-lo a algumas palavras e ações: respeito ao cidadão, gratidão pela companhia, responsabilidade pelo companheiro e pela sua família, amizade, cumplicidade, “amor no que faz e acreditar no que faz”
Mas o Antonio, o outro foi mais didático:
- Chegamos e fomos bem recebidos, logo nos arranjaram um barraco, fomos apresentados ao grupo e fomos informados de nossa ações para com o grupo, eu ia para o campo produzir, minha mulher junto com as outras trabalhavam no acampamento, cozinha, limpeza e cuidar das crianças, as crianças na escola nos dois períodos e finalmente o nosso objetivo:
- Conseguir um pedaço de terra para viver, plantar, comer e vender o que sobrar para poder viver como um cidadão comum. Porém sem se humilhar a viver pedindo esmola, vendendo meu voto e sendo explorado pelos que nos humilham nessa cidade.
Que mais posso dizer? Cadê o estado? Onde estão as políticas públicas? Onde está a democracia de direitos?
No primeiro caso o estado, a sociedade e as políticas públicas acabaram com a família. No caso do MST os únicos grilhões e correntes que nos impedem de realizar os sonhos de nossas vidas são os que nós mesmos moldamos na fornalha da dúvida e martelamos na bigorna da falta de crença no que dizemos ou fazemos.
Onde poderíamos encontrar melhor bússola que dirija nossa vida? Senão no respeito ao nosso irmão e no cuidado com a distribuição de renda.

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