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sábado, 13 de dezembro de 2008

Mea-Culpa ( WALMAR BUARQUE )

- "Quem ensinou isso ao senhor, Doutor?" A resposta veio prontamente: - "O sofrimento"
Camus, Alberto - A peste.

Todos nós estamos sofrendo do mesmo mal: descrença, indiferença, insatisfação, que traduzida no nosso dia-a-dia nos torna doentes crônicos de uma mesma patologia - o medo e a insegurança de vivermos em grupo nas nossas cidades.
Não somos mais capazes de transmitir segurança aos nossos filhos quando eles se manifestam em idade de sair sozinhos, terem seus amigos e trilharem seus caminhos. Somos obrigados a expor todo o nosso sofrimento enrustido nas recomendações e preocupações que só nós, os "doentes" sentimos e não deixamos transparecer o rancor de nossas frustrações em não podermos transmitir para nossos filhos as mesmas recomendações de nossos pais, em afirmar com convicção: "Vá de ônibus meu filho", “Vire-se", "Por que você não vai com seus amigos para a festa?", "Você não precisa ficar esperando seu pai para ir ao futebol ou à praia", "Vá brincar na rua, você precisa sair mais de casa", e outras recomendações despreocupadas como essas.
Hoje, por nossa culpa, por nossa máxi ma culpa, estamos doentes, vivemos em uma sociedade doente, cheia de problemas existenciais, individuais e de grupos; estamos no limite, vivemos no limite do stress, da paranóia, da insanidade, temos medo da polícia, temos medo do assaltante, temos medo de poderosos, temos medo da pobreza, temos medo de nós mesmos; vivemos e até dormimos com o inimigo. Não podemos suportar mais tanta pressão!
Sofremos atentados diariamente, na impertinência dos políticos, na sabotagem dos alimentos, na prepotência dos poderosos, no destempero da polícia, na arrogância dos bandidos, na falta de amor das pessoas comuns e na banalização da violência. Estamos doentes, estamos em coma emocional, e seremos confundidos com moribundos na convivência da opulência dos ricos, no esbanjamento de riquezas com griffes e no segregacionismo dos lugares restritos aos endinheirados que, cercados de miseráveis, não perceberam ainda que são prisioneiros de uma situação insustentável e que não permanecerão por muito tempo em segurança nos seus redutos, que são vulneráveis, que precisam, eles e seus filhos, conhecerem a cidade que eles construíram e a sociedade que eles ajudaram a criar.
E os meninos e meninas de rua, o que têm a ver com isso? Nada.
São vítimas de uma sociedade doente que os está criando para serem os algozes de seus criadores.

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